5 filmes clássicos de Hollywood que foram a inspiração de ‘Anora’

Em um ano de Oscar tão intenso, o impacto de Anora é inegável. Eu adorei. Ele reúne uma combinação rara de romance, drama e uma imersão crua na realidade. Com grandes atuações de Mikey Madison e Yura Borisov, Anora não só surpreende pela sua força emocional, mas também pelas suas chances de disputar algumas das categorias mais importantes incluindo Melhor Atriz, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Original e Melhor Filme.

Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, o filme rapidamente conquistou os críticos, e agora está se posicionando como uma das apostas mais fortes da temporada de premiações.

O diretor Sean Baker, conhecido por suas abordagens únicas e sensíveis, consegue fazer uma releitura moderna do clássico Uma Linda Mulher e A Dama das Camélias. Porém, ao contrário de uma simples recauchutada, ele nos apresenta uma história mais direta e realista sobre escolhas, frustrações e, sobretudo, sobre a esperança.

A protagonista Ani (Mikey Madison), uma trabalhadora do sexo, envolve-se com Vanya (Mark Eydelshteyn), o filho de um oligarca russo, e, aos poucos, se vê arrastada para as inesperadas consequências desse envolvimento. Nada a ver com o romance açucarado e improvável entre Vivian (Julia Roberts) e Edward (Richard Gere) ou mesmo o clássico Cinderella, citado tanto no filme de 1990 como no de 2024 só que sem príncipes ou redenção para a gata borralheira

A jornada de Anora não é única e reflete a história de mulheres que enfrentam adversidades e lutam para transformar suas vidas, algo que ficção explorou com frequência, cada um com sua abordagem singular, mas todos conectados por temas universais de luta e esperança.

Ao revisitar obras como Uma Linda MulherNoites de CabíriaSweet CharityA Dama das Camélias e Despedida em Las Vegas, percebemos um legado cinematográfico que lança luz sobre personagens femininas complexas, que inspiram por sua humanidade e determinação. Vamos combinar que antes de Anora veio Vivian e que antes de Vivian veio Marguerite, todas com os mesmos sonhos e desafios. Hollywood a-do-ra uma história de amor e redenção.

Vamos lembrar de cinco filmes clássicos que tem uma proposta parecida?

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1) Uma Linda Mulher (1990)

Cena de ‘Uma Linda Mulher’, filme de 1990Buena Vista Pictures/Reprodução

Embora esteja longe de ser o primeiro a mostrar uma profissional do sexo sonhando com o amor, esse clássico que completa 35 anos em 2025, dirigido por Garry Marshall, é um conto de fadas contemporâneo que combina romance e transformação. Vivian Ward, interpretada por até então quase desconhecida Julia Roberts, encontra no charmoso empresário Edward Lewis (Richard Gere) uma oportunidade para redefinir sua vida.

A negociação dos dois é muito parecida com a que Ani faz com Vanya (Mark Eydelshteyn) e é uma referência proposital. Assim como Anora, Vivian lida com preconceitos sociais e desafios emocionais, mas a principal diferença está no tom otimista de Uma Linda Mulher, que culmina em um final feliz.

O filme reconfigura estereótipos femininos, mostrando como o amor e o respeito podem ser catalisadores de mudanças significativas. E intencionalmente Marshal brinca com a mais famosa das cortesãs, Marguerite Gautier de A Dama das Camélias que aparece na versão ópera La Traviata, que Edward leva Vivian para assistir.

Ah, sim! Outro ponto que pode ser semelhante? Julia Roberts foi indicada ao Oscar pelo papel. Assim como Mikey Madison.

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2) Despedida em Las Vegas (1995)

Despedida em Las Vegas
Despedida em Las Vegas, filme de 1995Reprodução/Reprodução

Outro filme que fez grande sucesso de crítica há 30 anos, Despedida em Las Vegas  rendeu um Oscar de Melhor Ator para Nicolas Cage e uma indicação para Elizabeth Shue. Dirigido por Mike Figgis, o filme é uma narrativa brutal e devastadora que explora o encontro entre Ben (Cage), um homem em autodestruição, e Sera (Shue), uma trabalhadora do sexo em um momento de total entrega dele à tragédia e a esperança dela, tênue, de ter encontrado alguém que possa salvar e “salvá-la”.

O segundo ato de Anora reflete um pouco esse lado mais sombrio da condição humana que é a premissa de Despedida em Las Vegas. Sera, assim como Anora, tenta encontrar dignidade em meio ao caos e no fim, embora as histórias de sambas sejam marcadas por uma dolorosa aceitação de limites, refletindo uma visão mais crua da realidade, Ani tem – ao meu ver – uma possibilidade de ser feliz com Igor (Yura Borisov), enquanto Sera não tem a mesma conclusão (desculpe o spoiler para quem não viu ainda).

3) A Dama das Camélias (1936)

A Dama das Camélias
Cena de A Dama das Camélias, filme de 1936Reprodução/Reprodução

Vamos voltar à mais clássica das clássicas que lembra a história de Anora? Sim vamos ao clássico de 89 anos com várias versões na TV, na ópera e no cinema, mas cujo filme estrelado por Greta Garbo é o mais famoso. Marguerite Gautier, é uma cortesã que, assim como Anora, enfrenta julgamentos constantes.

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Quando um jovem Armand Duval (Robert Taylor) se apaixona por ela, a família dele faz de tudo para separar o casal. Eventualmente, por amar genuinamente o rapaz, Marguerite se sacrifica por amor, rompendo com Armand. Sim, Moulin Rouge é inspirado nessa história também.

A Dama das Camélias também reflete sobre a tragédia de mulheres marginalizadas que é sua conexão emocional com Anora e no fato que suas protagonistas buscam redenção, mesmo que isso venha a um custo elevado. O final triste do clássico de Alexandre Dumas é por conta da história real na qual o livro se inspirou, mas aqui o que importa é ver como assim como Ani, Marguerite esbarrou no preconceito e interferência da família de seu amado.

4) Noites de Cabíria (1957)

Noites de Cabíria
Noites de Cabíria, filme de 1957Reprodução/Reprodução

Noite de Cabíria é um dos filmes mais adorados de Federico Fellini e mencionado por Sean Baker como inspiração para Anora. Aqui, Cabíria, uma mulher simples e sonhadora, interpretada magistralmente por Giulietta Masina busca desesperadamente um sentido para sua vida em meio a sucessivas desilusões amorosas e sociais. Ela também é uma profissional do sexo que se ilude com a possibilidade de que um casamento vá mudar sua vida completamente.

O filme é uma obra-prima do realismo poético, e sua protagonista representa a vulnerabilidade feminina diante de um mundo hostil. Apesar de suas dificuldades, Cabíria nunca perde sua capacidade de sonhar, algo que ressoa profundamente na jornada de Anora.

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5) Charity, meu amor (1969)

Charity, meu amor
Charity, meu amor, filme de 1969Reprodução/Reprodução

Bob Fosse era mais um dos fãs do filme de Fellini e por isso refilmou o clássico italiano em uma versão musical, trazendo leveza e humor à narrativa. Charity Hope Valentine, vivida por Shirley MacLaine, compartilha a mesma vulnerabilidade da Cabíria de Fellini, mas sua jornada é contada com números musicais vibrantes e um tom mais otimista.

Apesar disso, Charity enfrenta desafios similares, como a busca por amor e validação em um ambiente que frequentemente a menospreza. A conclusão do filme, ambígua e realista, ecoa o tom reflexivo de Anora.

Em todos esses filmes, vemos mulheres em busca de algo maior: amor, dignidade, ou simplesmente uma nova chance. A principal semelhança entre essas narrativas é a luta contra as adversidades sociais e emocionais.

Vale ver todos eles

Enquanto Anora inspira pelo equilíbrio entre esperança e desafios, outros 5 filmes oferecem finais variados, que vão do triunfo ao sacrifício. Esse contraste revela a riqueza da representação feminina no cinema, mostrando que cada jornada é única, mas igualmente poderosa. Por isso recomendo TODOS.

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São filmes que evidenciam que a luta por mudança de vida transcende épocas e estilos, conectando audiências por sua profunda humanidade. Assim, Anora se torna uma sucessora digna de um legado cinematográfico que continua a emocionar e provocar reflexões.

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