Quando tentou abrir sua primeira loja, em 1990, Liana Thomaz encarou o preconceito na própria terra, Fortaleza. “O Shopping Iguatemi estava em expansão e não queria uma marca cearense, porque o Ceará sempre teve fama de ‘modinha’”, conta. Grávida de oito meses do primeiro filho, a estilista não desistiu. Saiu da reunião indignada e, no mesmo dia, ligou para uma das mulheres presentes.
“Eu disse que não tinha entendido o posicionamento dela, que não havia necessidade de tratar tão mal uma pessoa”, lembra. “Falei tanta coisa que, no dia seguinte, ela arrumou uma loja para mim. Até hoje é alucinada por mim. Eu nunca fui de bajular ninguém para conseguir as coisas, sempre me dediquei ao meu trabalho.”
Os primeiros passos
Filha de família de classe média alta, Liana queria independência financeira ao se casar e engravidar. Percebeu que havia pouquíssimas opções de moda praia no mercado nordestino e enxergou ali uma oportunidade. “Eu comecei por necessidade, não por vaidade”, afirma. Passou a viajar de ônibus até o Rio de Janeiro para comprar peças e tecidos e revendê-los às amigas em Fortaleza.
A curadoria funcionava bem, mesmo sem que ela soubesse costurar. “Meus tios trabalhavam com teatro. Minha tia foi fotógrafa nos anos 1960 e foi a primeira mulher a vestir biquíni no Brasil. Então existe uma veia artística na minha família e isso me ajudou muito”, diz. “Eu não sei costurar. Mas, se estiver junto com a costureira na prova de uma roupa, consigo identificar se há problema numa manga ou na costura, mesmo sem nunca ter pegado numa agulha.”
Das vendas para as amigas, Liana avançou para o atacado. Só depois viria a primeira loja própria, no Shopping Iguatemi. Ali nascia a Água de Coco, hoje uma das grifes de moda praia mais reconhecidas do Brasil.
O crescimento da marca
Com a mesma ousadia que a levou a percorrer quase 3 mil quilômetros até o Rio, Liana nunca mediu esforços para fazer a empresa crescer — e para derrubar preconceitos. No primeiro desfile da marca no BarraShopping, no Rio de Janeiro, investiu tudo o que tinha em um cenário ousado: mandou trazer tulipas infláveis de Nova York e pagou, em dinheiro vivo, 10 mil dólares — suas únicas economias.
“Fomos chamadas de última hora para o desfile. E eu fui tão maltratada que pensei: ‘agora eu vou mostrar pra essa mulher quem eu sou’. Investi todo o dinheiro que eu tinha guardado. Sempre tive coragem.”
De lá para cá, foram muitos eventos e parcerias de impacto. Em 2018, convidou a cantora Anitta para abrir o São Paulo Fashion Week com a Água de Coco. A artista não apenas desfilou, como também fez uma performance ao vivo, cantando clássicos da MPB e seus próprios hits em versões remixadas — uma aposta que ampliou ainda mais a visibilidade da marca. “Eu sempre falo aqui na empresa: investimento é uma coisa, jogar dinheiro fora é outra. E nós investimos muito em artistas, em jovens.”
Hoje, a Água de Coco soma 30 lojas próprias – uma delas em Miami, nos Estados Unidos – e mais de 450 pontos de venda multimarcas no Brasil e no exterior. Por mês, a marca produz cerca de 45 mil peças. E, se no início o time era formado por Liana e uma costureira, agora são mais de 700 funcionários – quase 400 só de costureiras.
O segredo, segundo a estilista, foi sempre apostar em qualidade, ainda que isso eleve custos e preços finais. “Eu sempre zelei pelo produto, nunca abri mão da qualidade. Abri a marca querendo ser grande, nunca quis deixar o preço menor só para vender mais. Meu lema sempre foi ‘fazer bem feito para quem tem condições de comprar’”, conta. “Até por isso ainda escuto, de pessoas que nem conheço, coisas como: ‘eu tenho um bichinho desses de 15 anos e até hoje ele não perdeu o elástico ou o lacre’.”
Da praia para o lifestyle
Há quatro anos, Liana quis expandir ainda mais a presença da Água de Coco – ampliando também para o dia a dia. Em 2021, o estilista baiano Vitorino Campos assumiu a direção de estilo. No ano seguinte, assinaram juntos a coleção Sonhos de Uma Noite de Verão, com looks urbanos. Dali em diante, a marca passou a investir não só no beachwear, mas também em roupas casuais, masculinas e femininas, pensadas para transitar em outros ambientes que não apenas a praia.
Além das roupas, a marca ampliou seu repertório para acessórios, objetos para casa (louças e aromatizantes), óculos, e criou espaços de vivência nas lojas.
“Estamos entrando muito forte com a parte de lifestyle, de roupa, de óculos, de bolsa, de tudo. Nosso último desfile [Códigos, em dezembro do ano passado] passou isso para todo mundo. Todo mundo notou a diferença brutal do produto e como a gente tá fazendo. Aí é outra coisa difícil, porque você joga a roupa dentro da loja e você não tem espaço dentro da loja, é um quebra-cabeça”, brinca.
“Mudamos porque a moda praia é muito sazonal. O primeiro semestre sempre deu muito prejuízo à empresa. Desde quando a empresa começou até a pandemia, a gente era igual a uma menininha, trabalhava só no verão. Agora, com 40 anos de trajetória, queremos estar presentes o ano todo.”
Um estilo de vida que também se preocupa com o lado ambiental. Há cerca de quatro anos, a Água de Coco organiza semestralmente mutirões de limpeza nas praias de Jericoacoara, no Ceará, envolvendo comunidade local e consumidores.
“É um trabalho de conscientização. A gente faz o que pode, mas a praia fica limpa em uma semana, e na outra já está suja de novo. Falta educação ambiental. Isso é uma coisa que deveria ser feita pelo governo, estadual ou federal, ou mesmo pelas prefeituras. Precisamos de uma educação em todos os sentidos”, critica.
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