“O Brasil é uma das economias mais desiguais do mundo”, diz Regina Madalozzo

Cuidar de crianças, adultos e pessoas doentes é uma atividade essencial para o funcionamento da sociedade, mas, na maioria das vezes, quem assume essa função não recebe nenhuma compensação financeira pelo esforço. Somadas as horas de trabalho não remunerado de meninas e mulheres em todo o mundo, o total seria equivalente ao quarto maior PIB entre todos os países, uma geração de US$ 10,8 trilhões por ano. 

Para discutir os múltiplos aspectos desse tema, a Casa Clã Finanças, evento promovido pela Revista Claudia sobre dinheiro e organização financeira, traz uma palestra com Regina Madalozzo.

A trajetória de Regina Madalozzo

Regina Madalozzo destaca desigualdades de gênero e o peso do trabalho não remunerado no BrasilRegina Madalozzo/Divulgação

Psicóloga, economista e pesquisadora do GeFam, grupo que desenvolve estudos nas áreas de economia da família e de gênero, Regina é uma das principais vozes da economia feminista no Brasil. Para ela, essa área também reflete escolhas cotidianas cruzadas por fatores como machismo e desigualdade social.

“Vivemos em uma das economias mais desiguais do planeta. E essa desigualdade não é somente de renda, ela também é uma desigualdade de oportunidades. Se não olharmos pelo prisma da equidade de gênero, da equidade racial, a desigualdade não diminuirá. Precisamos entender as especificidades que são barreiras quase intransponíveis para um grupo de pessoas e não para outro grupo”, diz ela sobre a situação do Brasil.

Autora do livro Iguais e Diferentes: uma jornada pela economia feminista, publicado pela editora Zahar em 2024, Regina analisa na obra as causas e consequências da desigualdade de gênero. Para isso, aborda temas como economia do cuidado, discriminação no trabalho, relações familiares, violência doméstica e disparidades de emprego e renda.

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Seu olhar feminista para a economia surgiu antes mesmo do trabalho do cuidado sem remuneração ou outros assuntos relacionados a gênero e recursos financeiros ganhar espaço no debate público. Talvez por isso, só durante o doutorado realizado na Universidade de Illinois Urbana-Champaign, entre 1998 e 2002, Regina percebeu que seus estudos eram voltados para gênero.

“Nem me dava conta que o tema e a forma como eu analisava as questões econômicas estavam dentro dessa área da economia. A princípio, eu me identificava como uma economista dentro do campo de ‘mercado de trabalho’. Aos poucos, fui entendendo que meu foco era gênero e, somente após eu estudar e me aprofundar nas diversas possibilidades dentro da economia feminista, é que passei a adotar o campo de pesquisa econômica feminista como minha área de trabalho.”

Mais tarde, em 2016, concluiu a pós-graduação em Psicologia no Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa e, em 2019, completou a formação em terapia de casal e família pelo Instituto de Sistemas Humanos. Em 2024, graduou-se em Psicologia pela Universidade Anhembi Morumbi.

O encontro entre economia e psicologia

A combinação entre economia e psicologia não apenas marcou sua trajetória, como também, em sua visão, enriquece as duas áreas. “Tanto uma quanto outra estudam, em sua base, o comportamento dos seres humanos. A economia foca nas escolhas para questões de consumo, investimento, uso do tempo, mas sempre com a hipótese de que os indivíduos têm características específicas, chamadas ‘preferências’, que os fazem escolher a melhor alternativa dentro de suas restrições”, explica.

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“Já a psicologia tem um olhar mais amplo, observando mais a fundo como essas tais ‘preferências’ foram constituídas e, de certa forma, trabalha no campo de auxiliar os indivíduos a se darem conta do que isso significa e como impacta suas vidas. Vejo essas duas disciplinas como altamente complementares e extremamente importantes para todos”, declara.

Além da atuação acadêmica e clínica, Regina é consultora em diversidade, tanto em âmbito executivo quanto mercadológico. Liderou diversos projetos e palestras voltados ao empoderamento feminino, como mentorias, treinamentos de liderança e de vieses inconscientes.

Na Casa Clã Finanças, ela reforça a urgência de discutir o trabalho não remunerado realizado por mulheres.

Esse é um trabalho quase que exclusivo, atualmente, de mulheres. E, embora tenha sido, por muito tempo, considerado simples e feito por pessoas que amam outras pessoas, é um trabalho de verdade, que implica uso de horas, em uma dedicação de esforço, abdicar de alternativas tanto de trabalho remunerado como de horas de lazer e, mesmo assim, raramente é remunerado ou tem sua importância devidamente reconhecida.”

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Casa Clã Finanças

Palestras para mulheres, finanças
CLAUDIA promove primeira edição da Casa Clã FinançasDivulgação/CLAUDIA

No dia 24 de setembro, a partir das 9h, CLAUDIA realiza a primeira edição da Casa Clã Finanças, evento que propõe conversas e encontros voltados para discutir dinheiro e organização financeira. O evento acontece na Casa Higienópolis, em São Paulo, e tem ingressos gratuitos. Eles poderão ser retirados mediante cadastro no Sympla.

A programação vai reunir mulheres de destaque do mundo dos negócios para debater temas como carteira de investimentos e empreendedorismo — mas não só. Assuntos como autoconhecimento e planejamento familiar, assim como direito patrimonial, perpassam o universo das mulheres e também serão assuntos de mesas. Confira a programação completa.

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Dicas do Beto
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