Bel Yunes: conheça a estilista por trás das cores da Animale

Não fosse pela intuição de Bel Yunes, o mundo da moda não conheceria o talento da estilista. Aos 17 anos, apaixonada por histórias, a surfista carioca escolheu o jornalismo como profissão. Mas o acaso a levou a virar modelo de prova da Redley, grife de óculos – começava ali uma carreira de mais de 30 anos de dedicação ao mercado da moda.

“Eu pegava onda, então achei que tinha ali uma verdade na minha vida, naquele ambiente familiar. Na época, muitos amigos trabalhavam com moda, mas era mais no varejo, e logo viravam gerentes. Dava uma remuneração muito além do que qualquer pessoa em início de carreira. Comparo até com essa coisa dos influenciadores de hoje em dia”, conta.

Mudança de carreira

Com a experiência, ela entendeu que a vontade de contar histórias não se daria com o jornalismo. Queria contá-las por meio de roupas. “Eu sempre penso na roupa como uma linguagem, que comunica, revela. Então, sempre teve isso: a roupa vai muito além da estética”. Assim, “de forma muito intuitiva”, como ela conta, entrou no curso de moda do Senac Cetiqt. 

Com dois cursos em andamento, migrou da Redley para a Company. Era ainda começo dos anos 1990, e a empresa, liderada por Mauro Taubman, apostava em patrocínios em eventos esportivos para atrair compradores. “Ele era um cara que, assim como eu, começou muito também na intuição, principalmente com o branding. A Company patrocinou todos os esportes da época. Era um cara muito visionário.” Deu certo – a Company foi uma das mais famosas marcas brasileiras entre os anos 1980 e 1990. 

Não foi só a admiração por Taubman que fez Bel migrar da Redley para a Company. Ela viu o parque industrial da marca quase como um parque de diversões, com uma infinidade de oportunidades criativas e de aprendizado. 

“Aquilo me interessava muito, por curiosidade. Eu não entendia muito sobre a construção da minha carreira, topei pela intuição. Aprendi muito, fiz camiseta de silk, tinha uma máquina super inovadora, para a época, que era um carrossel. Dava para explorar as camisetas, tinha um químico que fazia um pó, um cara que bordava. Era uma coisa muito hands on”, lembra.

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Carreira empreendedora

Aos 24, com as duas graduações completas, a estilista se sentiu pronta para lançar a própria marca. “Com essa idade a gente pensa que já sabe tudo, né?”, brinca. A Zicton perdurou por alguns anos, chegando a ter quatro pontos de vendas. Bel aprendeu todos os processos de criação de uma marca e administração de empresas. 

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Entre reuniões em shoppings, negociação com fornecedores e criação de logomarcas, percebeu que a energia que a movia estava na coleção, e não na cadeira de executiva. O acúmulo de funções a distanciava do que mais amava: a construção de coleções – por onde transmite mensagens e histórias. Foi quando cruzou com a Animale – e, de cara, se deixou capturar pelas calças cargos de seda expostas nas vitrines. 

Entrada na Animale

Desfile da nova coleção da Animale, Oásis.@animalebrasil/Instagram

No início dos anos 2000, a Animale se destacava como uma marca jovem e ambiciosa, conduzida pelos irmãos Cláudia e Roberto Jatahy — Gisella, que também fazia parte da sociedade, se afastaria mais tarde. O cenário era de efervescência: lojas amplas, crescimento acelerado e um time criativo disposto a experimentar. “Tinha umas coisas que eu achava mais caretas, mas quando vi as calças cargos de seda fiquei impressionada. Aquilo me pegou”, recorda.

Em 2004, Bel assumiu o cargo de estilista. Durante dois anos, mergulhou em praticamente todas as linhas de produto da marca, ampliando o repertório e consolidando a relação com os fundadores. “Passei por várias linhas, quase naveguei por 100% dos territórios onde a Animale atuava. Foi um mergulho intenso.”

O reconhecimento veio rápido. Dois anos depois, já em um momento de expansão da grife para São Paulo, Bel recebeu o convite para assumir a coordenação do estilo. Mas a vida lhe apresentou um desvio inesperado: a morte da sogra a levou a repensar o ritmo. Em vez de aceitar o novo cargo, decidiu dar uma pausa. Partiu com o marido para um sabático de um ano, viajando pelo mundo e acumulando ainda mais referências.

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O bom filho à casa torna

Mesmo longe, Bel continuou próxima à marca. A conexão era tanta que ela não conseguia se desligar. “Eu nunca me desconectei da marca totalmente. A gente ficava se retroalimentando, eu acompanhava todos os movimentos que a marca fazia. Continuamos trocando, continuei até com o meu e-mail da Animale. Apesar de estar desconectada da marca, emocionalmente eu ainda me sentia ligada a ela.”

Em 2007, voltou ao Brasil. O retorno à Animale foi imediato e natural: reassumiu o posto, desta vez como coordenadora de estilo. “Foi um encontro. A gente não se desconectou”, define. Agora, com um olhar amadurecido pelas experiências da viagem, estava pronta para liderar o processo criativo.

“Foi um momento em que a marca cresceu muito, em escalas importantes. Em 2010, começa a ser formado o grupo Soma, por conta da fusão com a Farm”, relembra. 

Entre o trabalho e a vida pessoal, em 2014, se afastou de novo – dessa vez por menos tempo: quatro meses para se dedicar ao filho recém-nascido. “Hoje, nós temos licença-maternidade de seis meses. Essa é uma das nossas conquistas.”

Pandemia e esgotamento

Durante a pandemia, em 2020, Bel chegou perto de um esgotamento total. “A marca é muito bem estruturada. Mas como a gente conseguiria entregar aquilo tudo sem essa estrutura, de casa? Então, eu me vi atuando em muitas frentes que eu já não atuava mais”, diz. Até as coleções precisaram ser refeitas – não fazia mais sentido lançar, por exemplo, peças de couro ou sapatos de salto enquanto as pessoas nem podiam sair de casa. 

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“A gente precisou falar com todos os fornecedores. Ainda que seja uma equipe enorme, tivemos um retrabalho – e a máquina não para, continuamos construindo a coleção nova”, conta. “E temos quatro modelos que vestem a contra-amostra e aprovamos para produção. Na pandemia, eu comecei a aprovar essas contra amostras todas. Então, chegavam sacolas e sacolas na minha casa, era uma loucura! Eu experimentava as roupas e fazia vídeos para mostrar o que precisava consertar.”

Exausta, em 2023, se afastou do trabalho e partiu para mais um sabático. Passou dois anos desligada da correria da vida, enquanto viajava pelo mundo, se reconectando consigo mesma. Quando voltou ao Brasil, voltou também à Animale – agora como diretora de estilo. 

Conquistas

Bel Yunes é diretora criativa na grife ANIMALE.
Bel Yunes consolida carreira de mais de 20 anos na Animale.Imagens cedidas/Divulgação

Entre os 21 anos da Animale, a coleção Mulheres, lançada em plena pandemia, é a que Bel recorda com mais carinho.“Falava muito sobre essa narrativa feminina. É uma marca feita por mulheres, com muitos olhares, uma união de muitos desejos.

E nós conseguimos nos conectar com muitas mulheres ao longo desses anos todos. Então, a coleção de 2020 foi uma homenagem a essa trajetória. Falava dessa potência feminina que cada uma tem dentro de si.”

Essa potência também aparece nos bastidores. “O setor da moda é um dos que mais emprega mulheres no mundo. Elas estão em praticamente todas as frentes — nos ateliês, nas lojas, no estilo, na criação e no atendimento. Mas, quando olhamos para as posições de liderança, a representatividade não acompanha. Embora 70% da força de trabalho do setor seja feminina, apenas 17% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres”, aponta.

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Na Animale, o cenário já é diferente. “Somos embaixadoras do Movimento Elas Lideram e assumimos o compromisso de garantir 50% de mulheres em cargos de alta liderança até 2030 — meta que conquistamos em 2021. Hoje, 56% da nossa alta liderança é feminina.”

A estratégia inclui programas de mentoria, capacitação e incentivo ao crescimento profissional, além de iniciativas como o Animale Vintage, que destina toda a renda à formação de mulheres do Morro dos Prazeres, no Rio. Desde 2021, o projeto já arrecadou mais de R$ 400 mil e beneficiou 90 mulheres com cursos de corte, costura, empreendedorismo e geração de renda.

Bel reforça que o compromisso não é apenas com gênero. “Somos signatários do Pacto de Promoção pela Equidade Racial e criamos o Programa Prepara, que acelera a carreira de profissionais pretos e pardos. Na primeira edição, 68% eram mulheres e, ao final, 44% foram promovidos.”

Mais do que números, ela enxerga propósito: “Para nós, a presença de mulheres na liderança não é apenas uma questão ética, é uma decisão estratégica. A moda tem impacto e alcance. Quando promovemos capacitação, autonomia, geração de renda e crescimento profissional, transformamos realidades. A Animale é uma plataforma que impulsiona mulheres e constrói um legado que precisa ser liderado por elas.”

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