Em um Brasil distópico, o governo transfere idosos a uma colônia habitacional para que ali passem seus últimos anos de vida e não preocupem os filhos a ponto de impedir sua rotina produtiva. Acontece que, quem vai para lá, nunca mais é visto. Com medo do futuro, Tereza, que já passou dos 70 anos, se recusa a perder a autonomia e embarca em uma jornada pelos rios da Amazônia em busca de realizar seu sonho: viajar de avião.
Essa é a trama de O Último Azul, drama dirigido por Gabriel Mascaro escolhido para abrir o Festival de Gramado deste ano e com estreia no dia 28 de agosto nos cinemas. “Percebi que são raras as produções com protagonistas idosos. E, geralmente, os personagens são construídos numa ideia de depositários do passado e corpos passivos. Quis desfazer essa noção e retratar um corpo que pulsa”, explica o diretor.
A travessia da protagonista é marcada por encontros delicados com pessoas que a transformam, como um contrabandista enlutado pela traição de sua amada e uma pastora (que não é religiosa) que conseguiu comprar a própria liberdade. “E ela encontra a rede de cuidado justamente nessa mulher que é ainda mais velha e ganha a vida dirigindo um barco. As respostas não estão na juventude, mas na velhice.”
Nesse processo, sua maior descoberta é que nunca é tarde para sentir desejo, apostar nas incertezas e viver com prazer. Esteticamente, o filme é hipnótico: tem uma fotografia deslumbrante que valoriza a luz natural, além de uma edição de som que conta com longos silêncios e ruídos da mata.
É uma obra corajosa e profundamente necessária, já que surge em tempos em que o envelhecimento populacional é uma realidade incontornável – nos fazendo pensar em como queremos viver e morrer no futuro. O longa foi premiado com o Urso de Prata, do Grande Prêmio do Júri, no Festival de Berlim. No elenco, brilham Denise Weinberg, Rodrigo Santoro, Miriam Socarrás, entre outros.
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