Após perder o filho, pai cria ONG e leva esperança a comunidades carentes

Dificilmente imaginamos que uma das maiores provas de amor possa vir de uma dor tão profunda quanto a perda de um filho. Seu Idair sabe exatamente o que é isso. No dia 29 de abril de 2001, um acidente mudou para sempre sua vida e a da esposa, Dona Lúcia. 

Naquele domingo comum, enquanto brincavam na calçada da casa da avó, seus filhos foram atropelados por um carro desgovernado. A filha, Daniela, se recuperou, mas Heitor, de apenas cinco anos, não resistiu após quase um mês no hospital. Ao receber o seguro obrigatório, que em tese serviria como uma indenização pela perda, o casal decidiu que o dinheiro não seria direcionado a qualquer bem material. Seu Idair queria um destino que honrasse a memória do filho.

Foi em frente à televisão, assistindo a uma reportagem sobre Pai Pedro, uma das cidades mais pobres de Minas Gerais, que ele encontrou a resposta. Lá, uma mulher com anemia profunda, mãe de sete crianças, dividia o pouco que tinha entre os filhos, passando ela mesma fome. Aquilo tocou profundamente Seu Idair.

Determinado, decidiu usar o dinheiro para comprar alimentos e levá-los àquela comunidade. O filho, onde estivesse, ficaria feliz, ele pensou. Com apoio dos colegas de trabalho, reuniu muito mais do que havia planejado: foram 17 mil quilos de alimentos, além de roupas, brinquedos e produtos de higiene pessoal.

Na primeira missão, a cidade revelou uma realidade ainda mais dura do que imaginava. Encontrou casas de pau a pique infestadas de escorpiões e barbeiros, crianças famintas e famílias vivendo em situação desesperadora. Foi diante dessa realidade que Seu Idair percebeu que precisava continuar.

Desde então, quatro vezes ao ano, ele, Dona Lúcia e dezenas de voluntários percorrem as regiões mais carentes do Norte de Minas Gerais, levando alimento e esperança. O que começou como um pequeno ato tornou-se o que é hoje a ONG Ser Tão de Minas, que atende centenas de famílias.

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“A jornada de Idair mostra a capacidade dos pais de continuarem sendo pais, mesmo diante da ausência física do filho”

Uma das primeiras missões foi a que mais marcou Idair. Na terceira casa que visitou, conheceu Dona Lourdes, que havia enterrado cinco filhos no próprio quintal. Questionada se aquelas cruzes no jardim não tornavam a dor ainda maior, ela respondeu que o que realmente doía era não ter o que dar de comer aos outros cinco filhos que estavam vivos.

A simplicidade daquela resposta foi um golpe direto no coração do pai que sofria: “Naquele momento, vi que meu problema não era o maior do mundo. Eu tinha acabado de perder um filho e estava querendo desistir da vida. Dona Lourdes, com toda sua força, estava lutando por aqueles outros que restavam. Eu era um fraco perto dela”, nos contou. A partir desse encontro, voltou para casa determinado a transformar sua dor em ação.

Essa jornada mostra uma face da paternidade que nem sempre é destacada: a capacidade dos pais de continuarem sendo pais, mesmo diante da ausência física do filho. Seu Idair conseguiu transformar o luto em propósito, reafirmando que amor é legado. Hoje, centenas de crianças e famílias têm uma história melhor graças a uma escolha feita no momento mais difícil de sua vida.

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Mais de 25 anos se passaram, e Seu Idair ainda viaja com a certeza de que seu filho, Heitor, onde estiver, sorri orgulhoso. Talvez seja essa a maior lição que um pai possa ensinar: amar e cuidar além dos limites da própria casa.

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