Ao longo de abril e maio, a palavra “Cruise” passou a nomear coleções de prêt-à-porter apresentadas fora do calendário tradicional da moda. Ainda que pareçam um “extra” em relação ao que se vê oficialmente duas vezes por ano, as criações dessa categoria são fundamentais. Afinal, transformam essa temporada em uma oportunidade de contar histórias para além da neutra sala de desfile.
Apesar da tradução literal ser “cruzeiro”, o mais apropriado seria utilizar a expressão “coleção destino”. A origem desse tipo de coleção está diretamente ligada às malas de viagem preparadas para as férias de verão em balneários europeus. De fato, as roupas precisam ser descomplicadas e reunir opções para diferentes momentos: do café da manhã à festa mais elegante e despretensiosa da viagem.
Mas os materiais e acabamentos não são menos sofisticados — pelo contrário, há uma valorização extrema do trabalho manual. E o quarteto mais aguardado da temporada, composto por Chanel, Dior, Gucci e Louis Vuitton, sempre surpreende. Não apenas pelas formas como desenvolve suas coleções, mas também onde. Afinal, o destino importa.
A começar pela Chanel, que estreou a temporada Cruise 2026 em solo italiano. Após dois anos de dedicação para traduzir suas raízes parisienses à dolce vita de um dos lagos mais charmosos do norte da Itália, o Lago de Como, o desfile apresentou não apenas uma sequência de peças com espírito leve, mas uma conexão real com sua fundadora. O hotel Villa d’Este foi a locação eleita para o show — e também uma oportunidade de revelar um passado pouco conhecido sobre a relação de Coco Chanel com o país — e, sobretudo, com o cinema.
O espaço reviveu a amizade entre a estilista e o diretor Luchino Visconti. Era na casa dele que ela passava alguns verões — e o cenário paradisíaco, desta vez com guarda-sóis amarelos, celebrou a vida descontraída da visitante que veste conjuntos de tweed, vestidos esvoaçantes de tafetá ou um look composto por camisa polo. Ela carrega sua bolsa — que pode ser uma versão maxi, ideal para a beira da piscina, ou uma minaudière em formato de cupcake.
A Gucci, enquanto aguarda seu novo diretor criativo, Demna Gvasalia, para a estreia em setembro, resolveu levar seus convidados diretamente aos seus arquivos — no sentido mais literal possível — no histórico Palazzo Settimanni, em Florença.
Falar sobre o legado da grife italiana é revisitar sua história com os artigos de couro repletos de monogramas — como o emblemático GG Canvas — nos acessórios, mas também reencontrar os códigos visuais de seus quatro diretores criativos de vestuário: Tom Ford, Frida Giannini, Alessandro Michele e, o mais recente a se despedir, Sabato De Sarno. O flerte — ainda que quase psicológico — com Demna já se insinua na irreverência das silhuetas, detalhes e materiais que fazem parte da identidade do estilista georgiano.
Nicolas Ghesquière costuma ser genial na maneira como trabalha a temporada Cruise para a Louis Vuitton. Sempre em busca de uma construção arquitetônica de tirar o fôlego — já elegeu cenários como o Museu de Arte Contemporânea Oscar Niemeyer, em Niterói; o Museu Miho de I.M. Pei, nos arredores de Kyoto; e o Salk Institute, na Califórnia —, surpreendeu ao incluir o Palais des Papes em sua jornada.
Na passarela, iniciada com um caminho de linha única entre os assentos vazios do teatro Cour d’honneur, celebrou-se a importância desse edifício francês histórico onde, por anos, os papas se hospedavam durante o verão. Com referências à indumentária religiosa, Ghesquière trouxe sua estética futurista às versões elaboradas de capas, vestidos, casacos, chapéus e sobreposições com estampas, recortes e brilhos metalizados. Uma sintonia que revela a conexão audaciosa entre passado e futuro.
Já Maria Grazia Chiuri, dias antes de sua despedida das linhas femininas da Dior, desvendou sua brilhante coleção nos encantadores jardins da Villa Albani Torlonia, em Roma. Era composta por coletes com lapelas acompanhadas de saias longas ou vestidos feitos com renda finíssima, alguns com camadas que remetiam ao efeito de queda d’água das fontes famosas da capital italiana.
A temporada de Cruise, de fato, é um deleite para quem quer se apaixonar pela moda.
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