Fiz o funeral do meu quase-relacionamento (e foi libertador)

Eu sei. Com o fim de um namoro — ou pior, de um quase — vem aquela missão praticamente impossível: esquecer um grande amor. Mas vou te contar uma coisa. Às vezes, é mais difícil superar uma paixão tórrida de dois meses do que um casamento de 16 anos. Verdade. O “quase” não fecha, não tem desfecho, não vira luto. Fica rondando a cabeça feito mosquito em quarto quente.

Não estou aqui para ditar regras. Sei que tem gente que sofreu horrores por relacionamentos longos, sérios, documentados em cartório. Mas tente esquecer um quase-algo. Um quase-amor. Um quase-nós. É de enlouquecer. Falo isso com propriedade. Atravessei cinco países, dois desertos, escalei vulcões, enfrentei nevascas, temperaturas extremas, lugares inóspitos — e voltei para São Paulo chorando porque queria ter mostrado tudo aquilo para ele. O ex. O quase. O encosto.

Em cada paisagem surreal, eu pensava: “Ele iria amar isso”. Cada pôr do sol, uma saudade. Cada lagoa colorida, um flashback. A cada passo, uma dorzinha ali no coração — não por que eu não estivesse feliz, mas porque eu queria dividir aquilo com ele.

Uma parte de mim ainda achava que viajar era só metade da experiência caso não houvesse alguém para segurar minha mão e dizer: “Caramba, olha isso”. Mas ele não estava lá, já tinha partido (não para o aeroporto, mas para uma realidade da qual eu não fazia mais parte). E eu? Seguia ali, tentando me distrair com flamingos cor-de-rosa e placas tectônicas, mas o pensamento voltava como se fosse notificação do WhatsApp, em uma segunda-feira de trabalho pós-feriado de cinco dias.

A busca pela cura

Rezei. Fiz banho. Fui na gira. Consultei tarô, búzio, Exu, pombagira, terapeuta. Tentei física quântica, reiki, missas, filmes de apocalipse zumbi, biografia de Freud, playlists de empoderamento. Rádio evangélica. Livros ruins de autoajuda. Live de coach amoroso (desculpe, mas é verdade e não me orgulho). Nadinha funcionava.

Como sou uma mulher com responsabilidade afetiva (vejam bem, senhoras e senhores), não queria colocar outra pessoa na minha vida só para preencher o vazio. Eu não sou esse tipo de arquiteta emocional. 

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O projeto só começa quando a estrutura tá firme. Foi então que li em algum lugar uma ideia radical e genial: fingir que ele morreu. Sim. Morreu. Nada de “ele seguiu em frente”, “não era para ser”, “quem sabe no futuro”… Não. Ele morreu. E morreu feio, emocionalmente falando. E assim começou meu teatro interno:

— Ai, queria tanto ver esse filme com ele…

Mas ele morreu.

— Que paisagem linda, queria mostrar pra ele.

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Morreu.

— E se a gente se encontrar lá na frente?

Não tem lá na frente. Tá enterrado. Sete palmos abaixo da terra.

Decreto final: faça o seu luto

E nesse exercício lúdico, quase dramático (obrigada, fé cênica), comecei a me livrar. Porque o cérebro não distingue ficção de realidade. Se você disser para ele que o ex morreu e repetir isso por tempo suficiente, o cérebro acredita. E com isso, você começa a entender: saudade existe, mas não há mais continuidade nesse plano terrestre. Porque acabou. De verdade. É o teatro mais terapêutico da vida.

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Eu, como autora e atriz da própria tragédia romântica, joguei meu ex no obituário simbólico e fiz meu luto. Não foi fácil, mas foi libertador. Me deu um alívio que há muito tempo eu não sentia.

E se você me perguntar: “Mas e se eu encontrar ele na rua?”. Alma penada! Atravessa. Reza um terço. Evite contato com o além. Você atravessa a rua correndo, pois temos medo de espíritos. Não é desejar o mal. É só um recurso narrativo para proteger o seu coraçãozinho. Uma brincadeira (ou não) pra organizar o luto de quem insiste em continuar vivo só dentro da sua cabeça.

Portanto, como Ministra do Namoro, decreto: enterre o ex. Viva o luto. Fuja da alma penada. E, só para garantir, acenda uma vela.

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