Se envolver com o ex de uma amiga é traição? Psicóloga responde

Quando o assunto são os ex-relacionamentos de pessoas próximas, a situação costuma ser delicada para muita gente. Não é raro surgirem momentos em que não sabemos exatamente como agir – como no caso da separação de um casal de amigos ou até mesmo ao desenvolver interesse pelo ex de uma colega.

Nas últimas semanas, a internet levantou debates sobre esse tema, motivados pelos acontecimentos da novela Dona de Mim, em que a melhor amiga de Leona (Clara Moneke) passa a se relacionar com o ex-noivo da protagonista.

A atitude dividiu opiniões nas redes sociais e levantou questionamentos sobre certo e errado nessas situações. Para entender melhor, conversamos com a psicóloga Rachel Sette, professora do curso de Psicologia do UniArnaldo Centro Universitário, de Belo Horizonte.

Se envolver com ex de amiga: certo ou errado?

De acordo com a especialista, essa é uma discussão complexa demais para se definir de forma absoluta o que seria certo ou errado, já que envolve fatores sociais, éticos e emocionais. Amizades são construídas sobre pilares como confiança e lealdade, e quando um ex-parceiro entra na equação, um desses pilares, a lealdade, pode ser abalado, colocando em risco toda a relação.

Do ponto de vista da psicologia social, o amigo que se sente traído pode experimentar sentimentos de insegurança, abandono e ressentimento – reações emocionais válidas diante da percepção de uma quebra de um código de conduta socialmente aceito naquele contexto.

A memória afetiva do relacionamento anterior, mesmo que terminado, pode gerar um desconforto significativo ao ver essa nova conexão se estabelecer.

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Liberdade feminina e sororidade

Rachel ressalta também que a revolução feminina trouxe a desconstrução de paradigmas e o questionamento de normas antiquadas. Um dos pilares desse movimento é a autonomia da mulher sobre suas escolhas afetivas e sexuais.

Sob essa ótica, a ideia de que uma mulher “pertence” ao seu ex-parceiro, ou que sua vida amorosa deva ser regida por regras de “propriedade” masculinas, é patrimonialista e ultrapassada. A mulher tem o direito de decidir com quem se relacionar, sem depender da aprovação de terceiros.

Até onde vai a nossa liberdade de escolha?

No entanto, é importante diferenciar autonomia de impacto social. Embora toda pessoa tenha o direito de escolha, as consequências sociais e emocionais dessas escolhas são inegáveis. Rachel pontua que a sororidade – conceito de união e empatia entre mulheres – é um valor fundamental no feminismo contemporâneo.

Nesse contexto, a ausência de sororidade poderia ser sentida pela amiga que se percebe preterida ou traída. A expectativa seria de que, em nome dessa irmandade, a amiga evitasse se envolver com o ex-parceiro, poupando um possível sofrimento.

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A psicóloga explica, porém, que sororidade também significa apoiar as amigas e compreender suas escolhas, mesmo quando difíceis. A falta de sororidade se manifesta, muitas vezes, não pela escolha amorosa em si, mas pela ausência de diálogo, na competitividade velada ou na incapacidade de se colocar no lugar da outra.

Antes de qualquer decisão, entender o que a outra pessoa sente sobre o ex pode prevenir desentendimentosFreepik/Reprodução

O quanto o ex ainda te afeta?

Outro ponto importante é o peso da figura do ex. Para quem terminou, ele pode ainda representar um vestígio de conexão, capaz de evocar sentimentos de posse, ciúme ou nostalgia. Elaborar o luto de um término é um processo pessoal, nem sempre linear. Ver o ex em um novo relacionamento, especialmente com uma amiga, pode reabrir feridas e intensificar emoções mal resolvidas.

Para o ex-parceiro, envolver-se com a amiga da ex pode ter diferentes significados – desde uma atração genuína até, inconscientemente, um desejo de provocação ou busca de validação. O timing dessa nova relação também conta: quanto mais recente o término e menos elaborada a separação, maiores as chances de conflito.

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Escolhas pessoais e os impactos coletivos

Rachel reforça que não existe um julgamento universal sobre “certo” ou “errado” nesse tipo de situação, pois a moralidade das ações humanas está na intencionalidade, no contexto e nas consequências.

Por fim, ela reflete que a decisão de se envolver com o ex de um amigo é pessoal, mas suas repercussões são coletivas. Não se trata de uma proibição moral absoluta, mas de uma escolha que exige sensibilidade, consideração pelo outro e uma reflexão profunda sobre os valores que sustentam nossas relações. A maturidade emocional e a capacidade de diálogo são as ferramentas mais eficazes para atravessar esse cenário complexo.

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