Carol Albuquerque: duas vezes diagnosticada, chef abriu restaurante enquanto enfrentava câncer

Em 2018, Carol Albuquerque acordou com uma dor leve no peito e atribuiu o incômodo à posição de dormir. Quando se olhou no espelho e fez o toque, percebeu um caroço. “Nunca tinha feito autoexame. Achava que era algo distante de mim”, lembra. Poucos dias depois, veio o diagnóstico: câncer de mama.

Na época, trabalhava no restaurante Maní, de Helena Rizzo. “Continuei cozinhando durante o tratamento. Era o que me mantinha de pé. Eu precisava seguir fazendo o que me dava sentido”, conta. Entre quimioterapia e serviço, Carol lidava com o impacto de uma palavra que ainda lhe parece difícil de dizer: “É pesada, né? Até hoje eu evito falar.”

Seis anos depois, em 2024, a doença voltou. Carol havia acabado de se tornar mãe e abria o próprio restaurante, o Fresta, em Pinheiros. “Descobri o segundo tumor pouco tempo depois da gravidez. Era pequeno, mas agressivo. E o tipo de câncer que eu tenho é receptor de hormônios, então pode ter relação com esse momento do corpo.”

O diagnóstico chegou quando o restaurante ainda estava em obras. “Fiz quimioterapia de novo, cirurgia, e continuei tocando tudo. Tinha o bebê, o Fresta nascendo, muita coisa ao mesmo tempo. Eu não parei”, diz.

Mas hoje ela reconhece que o corpo pedia outra coisa. “Acho que agora mereço um descanso. A gente precisa parar para assimilar, para entender o que está acontecendo. Eu não tive esse tempo.”

O câncer como pausa

Carol Albuquerque hoje comanda o Fresta, em São PauloRenato Nascimento/CLAUDIA
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“O câncer faz a gente olhar pra dentro. Te obriga a perceber o que realmente importa. Você passa a escolher melhor onde coloca a energia”

Carol Albuquerque, chef de cozinha

Carol aprendeu a observar o que chama de pausas forçadas — momentos em que o corpo impõe o que a mente ignora. “A primeira vez foi isso. Eu vinha de uma fase difícil, com questões familiares, e o câncer me obrigou a parar. Pude chorar, pensar, me cuidar. A gente não se permite isso, né? Parar.”

Ela não fala da doença como algo superado, mas como um processo que reorganizou sua relação com o tempo. “O câncer faz a gente olhar pra dentro. Te obriga a perceber o que realmente importa. Você passa a escolher melhor onde coloca a energia.”

A cozinha como eixo

A cozinha, para Carol, nunca foi só um ofício. É o eixo em torno do qual tudo gira — inclusive os períodos de fragilidade. “Durante o tratamento, eu seguia cozinhando. Aquilo me sustentava. Era o lugar onde eu me sentia viva.”

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No Fresta, ela traduziu essa relação em uma cozinha direta e sem excessos, com protagonismo de vegetais e ingredientes locais. “Queria um restaurante que refletisse o que acredito. Um lugar pequeno, acessível, mas com cuidado em cada detalhe.”

O nome — Fresta — surgiu da vontade de abrir espaço para o que passa despercebido. “Fresta é o que permite a entrada da luz, mesmo que seja pouca. Acho que tem a ver com esse momento. É sobre continuar.”

Imagem de card com o nome de Casa Clã Mama 2025
A edição de 2025 já abre o mês do Outubro RosaFlávio Santana/CLAUDIA

Foi ela a responsável pelo almoço servido na terceira edição do Casa Clã Mama, evento promovido pelas revistas CLAUDIA e Veja Saúde. A ocasião reuniu especialistas e pacientes para falar sobre conscientização, inovação e diagnóstico — confira aqui como foi o evento em São Paulo.

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Rede e continuidade

Carol atravessou os dois tratamentos com o apoio de amigas, da família e das sócias. “Essas relações me mantiveram firme. A forma como as pessoas te acolhem muda tudo.”

O restaurante, hoje, também é uma extensão dessa rede. “Trabalho com mulheres que conheço há anos, que têm os mesmos valores que eu. Essa convivência diária é o que me dá força.”

Agora, já em fase de acompanhamento, ela toma medicação preventiva e tenta equilibrar as funções de mãe, empresária e chef. “A vida segue. Só muda o ritmo. Antes eu queria dar conta de tudo. Hoje sei que não preciso.”

Carol fala do câncer com a mesma sobriedade com que comanda uma cozinha: atenção constante, movimentos precisos, economia de gestos. “Aprendi a usar a energia no que faz sentido. E a entender que viver também é isso: saber a hora de parar.”

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