“Exigir prescrição para o Ozempic é uma decisão certa do Brasil”, diz vice-presidente da Novo Nordisk

Brasil, 2019. Mais da metade da população está acima do peso, os casos de diabetes tipo 2 aumentam ano após ano e um novo medicamento chega ao país com a promessa de mudar esse cenário. É o momento do Ozempic. Criado para controlar a glicose, ele logo se destacou também pela ajuda na perda de peso.

O mérito está na semaglutida, seu princípio ativo, que atua induzindo a saciedade. Não por acaso, as famosas “canetas” do laboratório dinamarquês Novo Nordisk rapidamente ganharam popularidade, principalmente entre pessoas que, apesar de testar todos os exercícios e dietas, não conseguiam emagrecer devido a fatores genéticos, ambientais e comportamentais.

Pouco tempo depois, em 2024, o Brasil recebeu o Wegovy, irmão mais jovem e potente do Ozempic, indicado especificamente para o tratamento da obesidade. Agora, há também a semaglutida em versão oral, o Rybelsus. Hoje, não restam dúvidas de que a semaglutida, quando bem administrada e acompanhada por profissionais, representa uma das inovações médicas mais relevantes dos últimos tempos.

“Se prevenirmos a obesidade, prevenimos a maioria dos casos de diabetes tipo 2. Isso melhora a saúde dos indivíduos, reduz custos sociais e evita complicações graves, como cegueira, insuficiência renal ou necessidade de transplante. A obesidade é a origem de muitos problemas de saúde pública”, afirma Emil Larsen, vice-presidente executivo de operações internacionais da Novo Nordisk, em entrevista à Claudia e a outros veículos brasileiros durante a EASD (Associação Europeia para o Estudo da Diabetes) 2025, em Viena, na Áustria.

Larsen também comentou sobre o uso da semaglutida sem prescrição médica, a descoberta de que o Ozempic pode ajudar a reduzir o food noise (pensamentos insesantes sobre comida) e as próximas inovações da empresa. Entre elas, a possibilidade de combinar cagrilintida com semaglutida está sendo estudada para potencializar os resultados e reduzir efeitos colaterais.

No Brasil, muitas pessoas estão usando a semaglutida sem indicação médica. Como a Novo Nordisk vê isso?

Emil Larsen: Nós só recomendamos e prescrevemos para pacientes com IMC acima de 27 com comorbidades, ou acima de 30 sem comorbidades. É uma decisão sensata no Brasil que agora seja necessário que os médicos prescrevam o medicamento. Penso que isso significará que trataremos mais os pacientes certos e menos os pacientes que não se enquadram no perfil indicado do medicamento. Nosso objetivo é garantir que tratemos aqueles que realmente terão benefícios para a saúde também no futuro.

Um estudo recente mostra que o semaglutida pode ajudar a silenciar o food noise, pensamentos insensantes sobre comida. Estamos diante de uma grande inovação?

Emil Larsen: No Brasil, são quase 40 milhões de pessoas com obesidade e menos de 1% dessas pessoas recebem tratamento. Isso significa que há muitas pessoas com problemas relacionados à alimentação, mas também em risco de complicações da obesidade. Compreender isso e também desestigmatizar a obesidade é fundamental, porque dieta e exercício fazem parte da solução, mas sabemos que, muitas vezes, [eles sozinhos] não funcionam. 

Continua após a publicidade

As pessoas ouviram sobre a necessidade de fazer dieta e se exercitar por décadas, mas a obesidade continua aumentando. Então, para muitos, receber assistência por meio de intervenção médica faz parte da solução nos próximos anos. E também é importante entender que problemas relacionados à alimentação não são uma questão de falta de força de vontade. Não é que as pessoas hoje tenham menos força de vontade do que tinham há 30, 40 ou 50 anos, mas estamos em um ambiente obesogênico. Nesse ambiente, se você tem problemas com alimentação, é muito difícil não comer. 

Estamos ainda no começo para entender a conexão entre fisiologia e psicologia, mas claramente estão interligadas.

Em sua opinião, qual deve ser o papel das empresas de saúde na redução das desigualdades globais no acesso a medicamentos?

Emil Larsen:  A boa notícia é que o custo do tratamento está caindo. Já reduzimos o preço do semaglutida no Brasil. Produzimos localmente em Montes Claros (MG), onde investimos fortemente, inclusive ampliando nossa fábrica. E, claro, esperamos que, produzindo no Brasil e reduzindo nosso preço, possamos garantir o acesso a muito mais brasileiros.

Pensamos assim: por que 12% dos dinamarqueses são tratados para obesidade e apenas 0,6% no Brasil? O Brasil é um país avançado, com bom sistema de saúde. Em termos de obesidade, se você comparar dinamarqueses e brasileiros, é mais ou menos a mesma coisa. Então, existe uma desigualdade agora, mas esperamos melhorá-la reduzindo o preço e também investindo no Brasil, com produção local.

A semaglutida é vista como uma grande inovação, inclusive quando falamos de menopausa. O que ainda precisa ser melhorado ou pesquisado quando se trata do tratamento da obesidade em mulheres depois da menopausa?

Emil Larsen: Vimos que a maioria dos pacientes em tratamento para obesidade e manejo de peso são mulheres. E muitas delas estão na menopausa. Esse é um momento em que as mulheres têm grande dificuldade em perder peso, como sabemos, devido às mudanças hormonais.

Continua após a publicidade

O que é empolgante é que, neste congresso, mostramos que o semaglutida protege o coração, os rins, o fígado. Mas outro ponto muito importante, que surgiu no estudo publicado no New England Journal of Medicine, foi a composição corporal. Isso é crucial para as mulheres, porque sabemos que a perda de massa muscular é um problema, afeta ossos e muitos outros aspectos da saúde feminina.

A boa notícia é que a perda de peso foi composta por 25% de gordura, mas apenas 7% de massa magra. Ou seja, não só houve perda de peso, mas uma proporção maior de gordura em relação à massa muscular. Isso é particularmente importante para mulheres após a menopausa, elas permanecem mais fortes, não apenas mais leves.

Um dos temas discutidos aqui foi a obesidade em adolescentes, que é um problema grave de saúde pública no Brasil. Hoje já temos aprovação para uso do semaglutida em crianças a partir de 12 anos. Na sua visão, quão importante é ter novas opções de tratamento para obesidade desde cedo?

Emil Larsen: É muito importante. Claro que a primeira abordagem deve ser dieta, exercício e acompanhamento profissional. Mas, para alguns adolescentes, isso inclui também tratamento com GLP-1, como a semaglutida.

Isso é essencial porque crianças com obesidade têm grande probabilidade de se tornarem adultos obesos. E sabemos, por estudos, que adultos obesos vivem em média quatro anos a menos. A intervenção precoce pode mudar essa trajetória.

Também é preciso entender o aspecto psicológico. Um adolescente obeso pode ter dificuldades em participar de atividades físicas na escola, por exemplo, e isso afeta seu bem-estar. Então, não podemos deixá-los sozinhos, é preciso uma rede de apoio e, em alguns casos, intervenção médica.

Continua após a publicidade

E em relação ao futuro, há outras pesquisas que podem ser tão promissoras quanto o semaglutida?

Emil Larsen: Embora estejamos muito orgulhosos do semaglutida, a inovação não para. Já estudamos combinações, como a cagrilintida com semaglutida, para potencializar resultados e reduzir efeitos colaterais. A ideia é oferecer opções personalizadas: talvez o paciente use uma dose maior para perder peso e depois passe para outra molécula ou dose menor para manutenção.

Quais tendências globais de saúde você acredita que vão transformar a indústria nos próximos 5 a 10 anos?

Emil Larsen: Minha esperança é que, pela primeira vez em décadas, vejamos países conseguindo estabilizar ou até reduzir o IMC médio da população. Se conseguirmos “curvar” essa linha em nível nacional, será uma revolução em saúde pública. Já temos países como a Dinamarca, onde 12% da população está em tratamento. Se isso reduzir eventos cardiovasculares e diabetes em escala nacional, será um marco.

Passando para o diabetes: o Rybelsus foi aprovado pela União Europeia como medicamento que reduz eventos cardiovasculares em pessoas com diabetes tipo 2. Vocês esperam aprovação também pela FDA e Anvisa em breve?

Emil Larsen:  Sim, vamos submeter também no Brasil. O Rybelsus é o único GLP-1 oral com efeito comprovado em reduzir infartos, AVCs e mortes cardiovasculares. Isso amplia as opções para os pacientes: alguns preferem injetável semanal, outros comprimido diário. O importante é que funciona de forma semelhante em ambas as formas.

*A jornalista viajou a convite da Novo Nordisk

 

Assine a newsletter de CLAUDIA

Receba seleções especiais de receitas, além das melhores dicas de amor & sexo. E o melhor: sem pagar nada. Inscreva-se abaixo para receber as nossas newsletters:

Continua após a publicidade

Acompanhe o nosso Whatsapp

Quer receber as últimas notícias, receitas e matérias incríveis de CLAUDIA direto no seu celular? É só se inscrever aqui, no nosso canal no WhatsApp

Acesse as notícias através de nosso app 

Com o aplicativo de CLAUDIA, disponível para iOS e Android, você confere as edições impressas na íntegra, e ainda ganha acesso ilimitado ao conteúdo dos apps de todos os títulos Abril, como Veja e Superinteressante.

 

Publicidade

Dicas do Beto
Dicas do Beto
Artigos: 4801

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

pt_BRPortuguese