A vida de Thomaz e Gabriel mal havia começado quando o destino os separou. Com apenas 15 dias de vida, os gêmeos iniciaram caminhos distintos, cada um em um lar diferente. Liduína, a mãe biológica, enfrentava uma vulnerabilidade social avassaladora, que a fez acreditar que a adoção seria a melhor chance para que os filhos crescessem seguros.

Thomaz ficou em Fortaleza; Gabriel, em Uberaba. Eles viveram distantes por centenas de quilômetros. Mas algo muito forte sempre os uniu, como um elo invisível que nem o tempo, nem a distância, jamais conseguiriam romper.

Em seu lar, Thomaz notava a ausência: nenhuma foto da mãe grávida ou registro dos primeiros dias de vida, tão comuns nas casas dos amigos. Aquilo sempre o intrigou, um vazio na própria história que o fazia refletir. Seus pais, então, decidiram revelar a verdade sobre sua adoção.

Gabriel, por outro lado, soube de sua história desde cedo. O pai lhe contou sobre o irmão, mas as informações eram escassas: sabia que Thomaz tinha outra família, mas o paradeiro era mistério. Thomaz cresceu acreditando que seu irmão vivia com a mãe biológica, mas aos 16 anos teve a chance de reencontrá-la.

Liduína explicou a dolorosa decisão de ter entregado os filhos para adoção. Naquele encontro inesquecível, ela entregou a Thomaz uma foto antiga de Gabriel com a mãe adotiva, celebrando um aniversário. Ali estavam, o tempo todo, as pistas que o destino guardava: o nome da cidade, “Uberaba”, e o nome da mãe adotiva de Gabriel. Foi somente mais tarde, porém, que Thomaz sentiu o impulso irrefreável de iniciar a busca nas redes sociais.

Bastaram trinta minutos. Em um piscar de olhos, Thomaz encontrou o perfil da mãe adotiva de Gabriel e, consequentemente, seu irmão gêmeo. A emoção foi tão intensa que a tela do computador pareceu embaçar. Thomaz fechou os olhos, respirou fundo e as lágrimas, contidas por anos, vieram com uma força avassaladora. Precisou se recompor.

“Não havia como explicar tamanha conexão. Daquele dia em diante, seguiriam juntos em tudo, finalmente como irmãos”

Do outro lado, Gabriel trabalhava em uma farmácia quando recebeu uma ligação surpreendente da mãe. Com a voz trêmula, ela anunciou: “Seu irmão gêmeo está te procurando”. O coração de Gabriel disparou, a mente custando a processar a realidade daquelas palavras.

Dias antes, ele tivera um sonho estranho: via claramente o próprio rosto, mas com um detalhe diferente — um pequeno espaço entre os dentes da frente. Após a ligação da mãe, parecia até uma mensagem premonitória. Ao ver as fotos de Thomaz, a confirmação: os dentes do irmão eram idênticos aos do sonho. Os dois conversaram por horas em chamada de vídeo até que Thomaz, incapaz de conter a ansiedade, resolveu fazer uma surpresa e encontrar o irmão. 

O reencontro, tão esperado e ao mesmo tempo inesperado, aconteceu em plena pandemia, no aeroporto.

Gabriel, sem saber da chegada do irmão, havia ido ajudar um amigo fotógrafo em um suposto trabalho. Estava distraído, discutindo alguma bobagem, quando foi orientado a olhar para trás. Lá estava Thomaz, de máscara. Somente quando ele a retirou, Gabriel teve a certeza: era o irmão que esperou por toda a vida.

Entre risos, abraços e lágrimas, eles começaram a recuperar o tempo perdido. Descobriram semelhanças surpreendentes, desde a paixão pela fotografia até detalhes simples, como usar o mesmo modelo de óculos e vestir roupas idênticas. O tempo distante agora era preenchido com conversas intermináveis, para encaixar 23 anos em poucos dias.

De forma racional, não havia como explicar tamanha conexão. Gabriel e Thomaz estavam recomeçando, vivendo juntos um “primeiro ano” de vida, e tinham uma certeza absoluta: daquele dia em diante, seguiriam juntos em tudo, finalmente como irmãos.

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