Ela tem dinheiro, mais do que acredita precisar. E, por algum motivo, tem vergonha disso. Não usa bolsa com logo, prefere o linho cru ao brilho, não posa na frente da porta da geladeira inteligente para mostrar a cozinha planejada, nem quer a casa nas redes sociais. Tem medo de parecer arrogante quando diz que contratou um jardineiro para cuidar das plantas da cobertura.
Jamais admitiria que não repara nos preços do azeite, do queijo, do vinho. É como se dissesse: “Tenho, mas foi sem querer. Desculpa!”.
Como se ter dinheiro fosse motivo de constrangimento
Essas mulheres — e eu conheço algumas — foram ensinadas a não chamar atenção, a não parecer melhor do que ninguém, a guardar suas conquistas num cofre invisível para ninguém achar que ficaram metidas. Ser uma mulher ambiciosa, para elas, incomoda. E mulher discreta não incomoda.
Só que agora elas têm 40 e poucos anos, 50, 60… Por uma série de razões, sobra dinheiro. E aí os dilemas aparecem: “Investir, será? Não entendo nada, vou deixar na poupança mesmo”. Ou ainda: “Bolsa? Ah, não. Isso não é para mim”.
Como se cuidar do próprio dinheiro fosse uma ousadia, como se ainda estivessem naquela época em que o pai administrava a conta, o marido tomava as decisões e o gerente do banco explicava tudo com condescendência. Muitas passaram a vida ouvindo conselhos desses homens e nunca se sentiram à vontade para perguntar, duvidar, recusar.
Fomos educadas para desejar com contenção; para sermos boas, mas não demais; bem-sucedidas, mas discretas; independentes, mas sem parecer ameaçadoras
A cultura de controle sobre o dinheiro feminino
Agora, quando a autonomia é possível, falta a intimidade com ela. Falta o repertório emocional para acreditar que podem — e devem — cuidar do próprio dinheiro sem medo de errar, ou de parecer “metidas”.
Curioso sempre terem uma desculpa para que aprender não seja parte das prioridades da rotina. Aprender sobre investimentos exige se assumir ambiciosa. Será?
Por trás da hesitação, há algo mais profundo do que simples insegurança financeira. Existe a história cultural que ensinou que ambição é um atributo masculino — e, em mulheres, soa como egoísmo, ganância, falta de humildade. Fomos educadas para desejar com contenção; para sermos boas, mas não demais; bem-sucedidas, mas discretas; independentes, mas sem parecer ameaçadoras.
Construindo sua própria jornada financeira
Outro dia, uma delas me perguntou: “Se eu quiser começar bem devagar, onde eu vejo isso de ações?”. Falei do Ibovespa, o mais importante índice do desempenho médio das cotações das ações negociadas na bolsa de valores do Brasil, a B3. São mais de 400 empresas listadas na bolsa, o índice Ibovespa é uma carteira teórica formada por ações de cerca de 80, aquelas com maior volume de negociação. Então, focar nele é uma boa forma de acompanhar o tal do mercado.
É uma porta de entrada, com passos seguintes também simples, como buscar um fundo ou ETFs (Exchange-Traded Funds) atrelados ao Ibovespa: uma forma de entender na prática como funcionam os ciclos da economia, quais empresas movimentam o país, como a política e o mundo influenciam nossos rendimentos. É como observar o mar de longe, antes de decidir navegar.
Ela agradeceu. Ainda não sabe, mas já começou a se tornar uma investidora. Discrição e ambição não são opostos. Podem, inclusive, formar um par elegante — como calça de alfaiataria e sandália rasteira. Basta encontrar o corte que nos cai bem.
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