Tainá Santos lança o majestoso “ADÊ”, seu segundo álbum de estúdio

Tainá Santos é gigante: no canto, na fala, no gesto, na percussão. A cantora e compositora nasceu e foi criada no terreiro de umbanda de seus avós, em Embu das Artes, em São Paulo, e alcançou cedo o reconhecimento do poder da música como instrumento de cura e conexão.

Seu primeiro álbum, Tambores Que Cantam, registrou marcas difíceis de serem conquistadas no universo independente da música. Só no seu canal do Spotify, são mais de 114.000 ouvintes mensais. No YouTube, a linda faixa Aos Meus Avós soma mais 2,6 milhões de visualizações. Para além dos números, porém, sua força vem da relação de confiança e afeto com o público.

“Eu quero fazer música para tocar o coração das pessoas. Muitas pessoas me escrevem e falam: ‘Estava no meu processo de parto, tocou a sua música e foi a força que eu precisava para meu filho vir ao mundo’. Isso para mim é sem palavras. Meu caminho está sendo construído”, conta a artista em entrevista exclusiva à CLAUDIA.

Tainá Santos: artista lança seu segundo álbum de estúdio, “ADÊ”@brunnokawagoe/Divulgação

PORTAL ENTRE O MUNDO VISÍVEL E INVISÍVEL

No último dia 24 de julho, Tainá Santos lançou seu segundo álbum de estúdio, o majestoso “ADÊ”. São nove faixas que nascem da sua conexão profunda com a natureza, a espiritualidade, a ancestralidade viva e a nobreza que há em cada um de nós.

Ritmos tradicionais que mobilizam o corpo de dentro para fora se misturam com sonoridades contemporâneas, convidando a um processo de escuta sensível. “Eu cresci entre o som e o silêncio, aprendendo que a música podia curar, que o canto podia abrir caminho, que o corpo quando dança, em verdade, se conecta com o tempo ancestral”, afirma a artista no vídeo-manifesto que ganhou o mundo junto com o álbum.

Com direção criativa primorosa de Fernanda Baffa, esposa de Tainá e companheira de trabalho no Estúdio Criativo Elevador, o filme tem direção de Brunno Kawagoe e apresenta, em primeira pessoa, os sentimentos e intenções que brotam junto do projeto “ADÊ.”

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“É HONRANDO MEU CAMINHO QUE O MAR SEMPRE ABRIRÁ”

Junto das faixas, permeadas de ritmos ora suaves como brisa, ora potentes como tempestade, “ADÊ” soma outras linguagens artísticas, como a dança e as próprias artes visuais. É tudo junto, como na natureza. “Se reconhecer natureza é romper com a ilusão da separação. Não estamos acima, não somos algo à parte, somos vida em movimento, somos parte da grande obra. Quando a gente se esquece disso, a gente adoece”, ratifica Tainá em seu manifesto.

Na faixa Cavalo Marinho, Tainá Santos canta: “É honrando meu caminho que o mar sempre abrirá”. Enquanto desenha os próximos passos de “ADÊ”, que deve ganhar não só uma turnê de apresentações como também audições e rodas de conversa em espaços educacionais, a artista divide a sabedoria de quem encontrou sua coroa.

Tainá Santos: lança álbum
Tainá Santos: “Tudo começa com a nossa ancestralidade”@brunnokawagoe/Divulgação

“Dentro do nosso estudo da cosmologia africana, em iorubá, ADÊ significa coroa. Mas ela não é só uma coroa de adorno, um objeto bonito que os orixás carregam para demonstrar sua nobreza. Ela é um valor interno, de você buscar a sua própria história”, explica Tainá.

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“Houve um golpe para que a gente se distanciasse da nossa nobreza, da nossa própria história, das rezas, das comidas, do plantio, da terra, da comunidade, de encontrar essas riquezas no simples. Observar a natureza, o valor de um pôr-do-sol, de um uma troca com um amigo, a família, as crianças, é sentir que existe um valor na minha passagem nessa terra. Isso para mim é coroa na cabeça, é assumir a minha responsabilidade enquanto ser humano aqui.”

TEMPO DE GRANDEZA, TEMPO DE ORIXÁ

No encontro com sua própria grandeza, Tainá nos convida também a reencontrar a autoestima e ocupar nosso lugar. Nesse espaço interno, surge uma nova possibilidade de sonhar. “Sonhar é uma necessidade que nos mantém vivos por dentro. É ouvir o que o Ori tem a nos dizer. É a nossa bússola. Sem sonho, o mundo endurece, o corpo desacredita, a alma perde o brilho. Sonhar é dar passagem ao que vem de longe, ao que vem de dentro, ao que que vem de antes de nós. É no ato de sonhar com coragem que a nossa coroa brilha e se realiza”, conclui Tainá.

Acompanhe mais trechos da entrevista e escute “ADÊ” em todas as plataformas.

Tainá Santos, sobre o lançamento de
Tainá Santos, sobre o lançamento de “ADÊ”: “Eu quero fazer música para tocar o coração das pessoas”@brunnokawagoe/Divulgação

Você sempre usa uma frase que me marcou muito: “Respira grande”. O que te faz respirar grande e se acalmar?

O que acalma o meu coração, na verdade, é observar a natureza. Há uns 2, 3 anos, moramos um tempo em Perdizes, perto da Sumaré. Foi um momento que eu consegui aproveitar mais a cidade de São Paulo, os teatros, as exposições, as ruas, porque toda minha vida morei em Embu. Mas a partir do momento que a gente se muda para o mato… Na natureza, você acorda e o primeiro som que escuta é um pássaro, uma folha caindo. Isso começou a fazer muita diferença, a me inspirar, a me acalmar, a colorir as minhas poesias internas. A natureza me traz para o campo da sutileza, do respirar grande, do contato com o chão do terreiro. 

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Sua fala traz sempre um lugar de experiência. Quais vivências internas te trouxeram até o lançamento de Adê?  

Eu me emociono. “ADÊ” é um projeto de vida, não só um álbum musical. É um legado que vem para nos acordar e falar: “Eu me lembrei de algo meu que me mantém mais forte”. Uma memória ancestral que te fortalece, esse é o projeto de “ADÊ”. Por mais que eu esteja à frente de uma casa espiritual e tenha contato com muitas histórias, “ADÊ” vem num lugar de me provocar: quem é a Tainá no encontro com a sua coroa interna, com o seu canto, com a sua música, com a sua poesia, quem é? 

É certo dizer que tudo começa com seus avós?

Tudo começa com a nossa ancestralidade. A gente começa com um legado do qual eu não tenho a ponta, é uma linhagem antiga. Os meus avós, que foram criados pelos pais e pelos seus seus próprios avós, que são os meus tataravós… Essa sabedoria foi sendo passada de tempo para tempo, de ordem para ordem, de geração para geração. Eu preciso olhar para outras árvores que existiram antes de mim e me reconhecer árvore, como eles. Essa é a ciência da ancestralidade que eu acredito.

Junto com o lançamento do álbum foi lançado um vídeo-manifesto. Como foi contar a sua história em primeira pessoa ali?

Há 4 anos, no lançamento de Tambores Que Cantam, eu tinha um sonho: pegar todas as faixas, as músicas que escrevi e apresentar para o mundo. Aquilo era um chamado muito forte na minha alma. Estava numa fase muito sem dinheiro e esse sonho batendo na minha porta. Então eu apostei tudo que eu tinha. Lancei um financiamento coletivo, chamei os meus amigos, apresentei a proposta e falei: “Preciso de ajuda”. As pessoas começaram a chegar e Tambores Que Cantam se manifestou. Aquilo me aliviou e, sim, abriu muitas portas. Eu amadureci diante desse processo, ainda mais nesse lugar da minha autoconfiança, de acreditar que quando a gente coloca a energia e batalha, a coisa se comunica com a gente. A capa do álbum é uma ilustração de uma entidade, de um preto velho, e essa capa ficou muito conhecida.

Mas “ADÊ” vem com essa proposta de tirar a gente do lugar, de falar sobre a nobreza, sobre a coroa na cabeça, sobre esse autovalor, esse autoamor. Então espera: cadê  você, cadê a Tainá? A necessidade do “ADÊ” é de dar a cara para jogo e assumir esse lugar. Apresentar minha fala, o que eu penso, o que eu sinto, e seguir com a coroa na cabeça.

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O que essa coroa representa para você, física e simbolicamente? E qual a importância de falar isso hoje, no Brasil, em 2025?

Dentro do nosso estudo da cosmologia africana, em iorubá, “ADÊ” significa coroa. Mas ela não é só uma coroa de adorno, um objeto bonito que os orixás carregam para demonstrar sua nobreza. Ela é um valor interno, de você buscar a sua própria história. Essa é a coroa. Quando você fala: “Eu assumo quem eu sou, eu assumo a minha própria história”.

Isso tudo num mundo de apagamento, de violência e de distanciamento da nossa raiz e da nossa natureza. Houve um golpe para que a gente se distanciasse da nossa nobreza, da nossa própria história, das rezas, das comidas, do plantio, da terra, da comunidade, de encontrar essas riquezas no simples. Observar a natureza, o valor de um pôr-do-sol, de um uma troca com um amigo, a família, as crianças, para mim isso é sentir que existe um valor na minha passagem nessa terra. Isso para mim é coroa na cabeça, é assumir a minha responsabilidade enquanto ser humano aqui.

Promover encontros, como a primeira audição do álbum junto de uma fogueira, faz parte do projeto?

Com “ADÊ”, a gente quer promover encontros, falar sobre comunidade, oralidade, a nossa relação com a Terra, com a arte e as futuras gerações. Vamos consagrar esse tempo, criar essa memória tão bonita, cantar em volta de uma fogueira, bater palma, abraçar quem a gente ama, ouvir nove faixas inéditas de um projeto que estava sendo construído há meses. Isso me gera prazer, me gera alegria, me gera emoção e coragem. Em tempos de esquecimento, a gente está perdendo a nossa forma orgânica de ser. “ADÊ” vem para a gente se reunir e se fortalecer. 

Como nasceram as nove faixas? Você tem uma preferida também?

Essas faixas foram criadas em momentos diferentes. Por exemplo, esse álbum é dedicado a Xangô, um orixá muito poderoso, senhor do fogo, da justiça, da balança, da nobreza, da política, do povo, um grande rei. Obá Kosso foi composta quando eu tive um encontro com a minha companheira, Fernanda. A partir desse momento, o meu mundo tomou uma outra jornada, nesse lugar de me encantar, de sentir a brisa do vento, a vida, as cores. Isso foi Xangô que se apresentou na minha vida e me convidou a viver esse sabor diferente. Foi quando eu me apaixonei. Então escrevi como uma declaração de amor a pessoa na minha vida e também a esse Orixá, porque ele é o grande responsável por muitos tesouros que eu tenho hoje.

Em O Voo da Folha, que ouso dizer que é a minha favorita no momento, conto uma história muito bonita. Eu precisava fechar uma história para iniciar uma outra nova história, o voo da folha é essa viagem no tempo, a importância de cada passagem, de cada estação da natureza. Tem o momento da semente, do broto, das raízes, da seiva, da floração.. A natureza está se comunicando com a gente, tudo tem a hora certa de acontecer. E essa música despertou isso em mim. Ela vem com esse aroma da vida, da impermanência.

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O Segredo de Oyá vem do que eu precisei viver, de alguns dilemas, dores e situações desagradáveis que precisei viver para levantar essa coroa no alto da minha cabeça. Iansã se apresenta na minha história para me dar essa coragem, para mostrar que esse vento, ele não é só para destelhar, não é só para deixar com medo da tempestade, ele vem para fortalecer, fortalecer os meus ossos, me dar estrutura para levantar essa cabeça e seguir essa batalha. 

“Eu precisei me reconhecer internamente, fortalecer as minhas estruturas para saber o valor do que é levantar essa coroa e assumir isso no mundo”

Trabalho e fé andam juntos para você, é tudo vida. Como a sua relação com a sua companheira Fernanda Baffa permeia o projeto de ADÊ?

A essência de “ADÊ” nasce na minha vida a partir do encontro com a Fernanda. Porque é um encontro movido ao amor, na forma mais pura que eu já experienciei e que eu acredito que é também o lugar da arte. A Fernanda tem uma longa história com a arte e a comunicação. É uma mulher poderosíssima, aonde ela coloca a mão, tem uma uma força de realização. Sinto que foi um uma generosidade da vida colocar a gente nesse encontro, porque a gente se complementou. Juntas, a gente é uma explosão, um acontecimento. Eu falo isso com muita humildade, sou muito agraciada de ter esse esse encontro na minha vida. São duas almas muito dispostas a levantar essa coroa. Exige uma maturidade, um cuidado, um olhar atencioso porque a gente se relaciona em muitos âmbitos: no terreiro, na profissão, no casamento.

Como você enxerga a música num processo de cura, tanto individual quanto coletivo?

Eu tenho uma memória de quando eu nem sabia tocar violão, mas eu tinha um violão. Todas as vezes que eu estava muito triste, ou numa situação que eu precisava colocar para fora ou movimentar algo dentro de mim, eu entrava para o meu quarto, pegava esse violão que eu não sabia tocar e ficava. Ficava tentando coisas, criando moda, escrevendo dentro daquele som que que saía ali. Não sabia o nome das notas, se era um acorde, mas aquilo me ajudava a esclarecer algo emergencial. Era a  música já sendo um processo de cura, me fazendo muita companhia, sendo uma melhor amiga, me convidando a me aproximar desse campo sutil. 

Então eu fui escrevendo, escrevendo… Aprendi a tocar violão, aprendi a cantar, a expressar mais os meus caminhos, meus desejos. É como se eu me aproximasse do meu estado natural orgânico mesmo, de me sentir ouvida, de me sentir amada, de sentir a potência atuando no meu espírito criador. Isso para mim é um estado de cura.

A música tem esse poder de nos colocar nesse estado, de encontro consigo. Se me toca a alma, vai tocar aquela pessoa também, se ela tiver abertura, vai ressoar alguma emoção. Eu não quero só ser um número no mercado, quero fazer música para tocar o coração das pessoas. Quero fazer música porque acredito que quando conto um pouco da minha história, alguém vai ouvir, vai se identificar e vai fazer diferença.  Muitas pessoas me escrevem e falam: ‘Estava no meu processo de parto, tocou a sua música e foi a força que eu precisava para meu filho vir ao mundo’. Isso para mim é sem palavras. Meu caminho está sendo construído.

Para quem vai te conhecer agora, com ADÊ, qual é a sua entrega, pelo que você gostaria de ser reconhecida? 

A humildade é uma marca que eu carrego comigo, em todos os momentos. Somos construídos a partir de uma força muito coletiva. Eu sou artista, cantora, percussionista. Eu boto a mão na massa, eu vou lá e construo, planto, dou comida para os cachorros, lavo louça, sou um ser humano com as minhas tentativas, as minhas vulnerabilidades. Quando estou no palco, é um espaço seguro onde eu quero colocar tudo em forma de arte, de poesia. Eu acredito na arte que são na arte que une. Onde eu consegui atuar, fortalecer essa comunicação, essa troca, essa amizade, essa presença, eu tô dentro, eu tô junto. Essa é a arte que eu represento, essa é a música que eu quero cantar, essa é a troca que eu quero ter, esse é o meu perfume no mundo. 

Tainá Santos: “Dentro do nosso estudo da cosmologia africana, em iorubá, ADÊ significa coroa
Tainá Santos: “Dentro do nosso estudo da cosmologia africana, em iorubá, ADÊ significa coroa”@brunnokawagoe/Divulgação

Direção criativa: @fe.ba
Fotografia: @brunnokawagoe
Assistente de fotografia: @renanmartinsfoto
Direção de arte: @fe.ba
Produção executiva: @fe.ba @elevador.estudiocriativo
Assistente de Produção: @miricciardi @valeriarossatti
Produção de arte e objetos: @marnoolhar @fernando_r_de_lima
Assistentes de elétrica e maquinário: @charles_salessantana
@jacksonsilva_1468
Design: @brenoloeser
Desdobramentos do Design: @jonaseopeixe
Tratamento de imagem: @brunnokawagoe
Figurino: @arieli_marcondes
Assistente de figurino: @luanmateus
Assistente de adereço: @fatimamarcondesreis
Costura: @scarl.let
Hairstylist: @sttefone
Assistente Hairstylist: @saraflloor
Make: @almanegrot
Making of: @giovannaijanc
Assessoria: @omimcomunicacao
Produtora audiovisual: @umu.filmes

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