Nas últimas semanas, o Brasil tem acompanhado de perto os impactos das sanções impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. As declarações do líder norte-americano acenderam um sinal de alerta e abriram espaço para uma série de incertezas, especialmente após o anúncio do chamado “tarifaço”.
Diante desse cenário, diversos setores da economia brasileira começaram a se mobilizar para avaliar os possíveis efeitos da medida. Entre eles estão as mulheres empreendedoras, que já enfrentam inúmeros desafios no dia a dia dos negócios – e agora se deparam com mais uma potencial crise.
Para entender melhor os desdobramentos da medida e apontar caminhos possíveis para essas profissionais, conversamos com Rijarda Aristóteles, presidente executiva do Clube Mulheres de Negócios em Língua Portuguesa.
O que é o tarifaço?
Popularmente chamado de “tarifaço”, o movimento refere-se ao aumento generalizado de tarifas sobre produtos e serviços estrangeiros, com o objetivo de proteger o mercado interno dos Estados Unidos.
“Trata-se de uma medida sem precedentes na história da humanidade. É um movimento que rompe com a lógica da diplomacia comercial que vinha orientando a ordem mundial até pouco tempo atrás”, afirma Rijarda.
Segundo ela, esse tipo de ação afeta diretamente o fluxo comercial global, gerando paralisações e um clima de insegurança. “O mais cruel é justamente a imprevisibilidade. Os EUA são os principais compradores e vendedores do comércio mundial. Com tarifas sendo ameaçadas ou aplicadas de forma repentina, setores inteiros ficam sem saber como reagir. A pergunta que mais ouvi no último mês foi: ‘O que fazer agora?’”, relata.
A preocupação não é infundada. Em 2024, os Estados Unidos correspondeu a cerca de 10% das exportações brasileiras, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O impacto atinge não apenas grandes corporações, mas principalmente as pequenas e médias empresas, que hoje somam 99% dos negócios formais no Brasil, segundo o Sebrae.
Como o tarifaço afeta mulheres empreendedoras?
Apesar da dimensão global da medida, seus efeitos recaem de forma ainda mais severa sobre pequenos negócios – especialmente os liderados por mulheres. Rijarda alerta para os impactos que vão do aumento dos custos de produção à perda de contratos e competitividade internacional.
“No Porto do Pecém, no Ceará, foi angustiante ver pequenas empreendedoras das cooperativas de mel com estoques e contêineres parados, em meio a tanta incerteza”, comenta.
Ela destaca ainda que a imposição de tarifas de até 50% sobre diversos produtos, inicialmente prevista para entrar em vigor no final de julho, assustou o setor. “Foi algo inimaginável. Felizmente, quase metade das tarifas foi suspensa, mas ainda restam muitos produtos que seguem taxados, o que compromete contratos e eleva os custos de exportação”, explica.
Apenas em 2024, mais de 10 mil pequenas empresas lideradas por mulheres estavam envolvidas diretamente com exportações para os EUA, segundo levantamento do Observatório de Comércio Exterior. Com o tarifaço, muitas delas agora enfrentam dificuldades para manter contratos, entregar produtos ou competir com preços mais altos.
Caminhos possíveis para enfrentar a crise
Diante do novo cenário, Rijarda defende que os governos atuem com medidas emergenciais voltadas especialmente às PMEs comandadas por mulheres. “É preciso garantir apoio financeiro e linhas de crédito específicas para esse grupo, que já enfrenta tantas barreiras estruturais no mercado”, afirma.
Ela também reforça a importância de repensar as estratégias de exportação. “Uma das grandes lições do tarifaço é que não se pode concentrar todos os esforços em um único país. No Clube, incentivamos a diversificação dos mercados-alvo. Após essa crise, ficou ainda mais evidente a importância de fortalecer relações com blocos comerciais.”
Como exemplo de ação concreta, Rijarda cita o Fórum Mulheres, Mercosul e União Europeia, promovido pelo Clube com apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI), ApexBrasil e outras instituições. O evento busca construir redes de negócios e cooperação internacional voltadas a empresas lideradas por mulheres.
Ao fim da conversa, fica evidente: este é um momento que exige reinvenção, união e articulação. Esperar por estabilidade total para empreender e crescer não é uma opção – e pode significar ficar para trás em um mundo que exige respostas rápidas e coletivas.
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