Nathalia Dill: “O acesso a informações sobre saúde é uma questão de gênero”

A atriz Nathalia Dill vive uma carreira multifacetada. Aos 39 anos, ela se destaca como uma das principais vozes femininas da dramaturgia brasileira contemporânea, transitando entre papéis marcantes nos palcos, na televisão e no cinema

Na peça Três Mulheres Altas, escrita por Edward Albee no início da década de 90, ela dividiu o palco com Suely Franco e Deborah Evelyn numa montagem que reflete sobre os ciclos da vida e os conflitos de mulheres em diferentes fases. O monólogo, intenso e sensível, retrata um embate existencial que aborda as nuances do envelhecimento feminino.

Já na série Guerreiros do Sol, disponível no Globoplay desde junho, a artista vive Valiana, uma mulher que desafia o sofrimento e a opressão ao enfrentar um câncer de mama no sertão nordestino da década de 1920. Abandonada pelo marido, a personagem se reconstrói com apoio de outras mulheres e encontra força para retomar seu lugar no mundo. 

Sem deixar de lado as telonas, ela acaba de gravar O Personagem, drama dirigido por Fábio Mendonça, cujo roteiro aborda imigração, racismo e sobrevivência por meio da jornada de um imigrante haitiano em São Paulo. “É um ano muito gratificante em que transito entre as três linguagens. Acredito que uma obra sempre complementa a outra”, diz a CLAUDIA. Abaixo, confira a entrevista completa:

CLAUDIA: Estamos falando muito sobre longevidade. E a peça mostra a vida inteira de uma mulher. O que você aprendeu sobre esse tema?

Na peça, o grande protagonista é o tempo – e isso é o mais bonito. A história se resume em um embate de gerações que sempre acontece. E, apesar de vivermos em uma geração em que as pessoas estão envelhecendo bem e com vigor, também encaramos uma espécie de duelo – que é bem latente na internet, por exemplo. 

Na peça Três Mulheres Altas, a atriz reflete o conflito entre gerações e o envelhecimento femininoDivulgação/Divulgação
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CLAUDIA: Você costuma pensar sobre o seu envelhecimento e futuro? 

O diretor da peça, Fernando Philbert, sempre diz que o jovem acha que o velho é de outra espécie e que ele nunca vai ser aquilo. Se ver no futuro é a grande dificuldade de quem é jovem mas, quando a gente vai chegando na meia idade, nos damos conta de que precisamos nos enxergar ali. Eu não penso nisso concretamente, mas vou me planejar. Sei que gostaria de envelhecer de uma forma na qual a minha filha não ficasse muito sobrecarregada como vi meus pais ficando com os meus avós. É muito curioso que não há um protocolo para isso, cada país faz de um jeito. Mas essa decisão poderia ser coletiva porque o cuidado com o outro é universal

CLAUDIA: Como você analisa Valiana, sua personagem em Guerreiros do Sol?

Existem mulheres à frente do tempo e há Valiana, que é uma mulher do tempo dela. Ela representa o feminino que vivia naquele tempo e naquelas condições, com relacionamentos em que é silenciada e uma doença misteriosa que ninguém sabia como funcionava. 

CLAUDIA: Já temos muitos estudos e uma medicina avançada contra o câncer de mama. O que mudou de lá para cá além disso?

Há 100 anos atrás, o diagnóstico era totalmente diferente. Eu fiz uma analogia com a Covid, uma doença nova, sem precedentes, onde tudo parece incerto. Mas, ainda com muitas evoluções tecnológicas, as mulheres sofrem um abandono brutal. Há dados que mostram que somos muito mais abandonadas quando recebemos diagnósticos. 

Li uma matéria  em que uma mulher comentou que, quando ficou doente, o marido não a abraçava mais com medo de pegar. Ou seja, o acesso a informações sobre saúde também é uma questão de gênero.

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Para ela, as linguagens diferentes se complementam
Sem deixar de lado as telonas, ela acaba de gravar O Personagem, drama dirigido por Fábio MendonçaDivulgação/Divulgação

CLAUDIA: Em uma entrevista anterior, você comentou que o puerpério foi difícil. Como está a sua relação hoje com a maternidade? 

Eu tive uma filha em um momento muito específico da humanidade, que foi a pandemia. O lado ruim foi toda a preocupação, mas o lado bom foi que, quando todo mundo se recolheu – e o puerpério é recolhimento –, também pude fazer isso.

No retorno de tudo, consegui voltar para o mercado de trabalho quando a sociedade também se restabelecendo. Acho que todas as pessoas entraram e saíram do puerpério junto comigo. Hoje minha filha está com quatro anos e conseguimos estabelecer uma outra relação. Ela já tem mais independência e, quando isso acontece, os pais também conseguem mais autonomia. Ela compreende as coisas melhor, fala o que quer e sente, além de entender nosso trabalho.

CLAUDIA: Tem algo que você não abre mão no processo educacional dela?

Quando chega o cronograma do ano escolar, eu já olho todos os eventos e encontros para deixar na minha agenda e não faltar. Isso é importante porque as festas juninas são só seis, depois não vamos ter mais, sabe?! Fico me policiando para ser muito presente e tentar não perder nada.

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