A cantora, atriz e empresária Preta Gil faleceu neste domingo (20), aos 50 anos, em meio à luta contra um câncer no intestino. Desde maio, ela realizava um tratamento experimental em Nova York, nos Estados Unidos. Filha de Gilberto Gil e Sandra Gadelha, cresceu em um lar cercado por música, arte e grandes nomes da música brasileira.
Mas não foi apenas o talento herdado que a trouxe destaque. Com muita luz, Preta construiu uma carreira assinada pelo seu caráter autêntico e, principalmente, por sua coragem em romper padrões. Foi uma voz ativa na luta pelos direitos da população LGBTQIA+, no combate ao racismo e à gordofobia. Mais do que apenas uma cantora, sua presença misturava leveza e intensidade, como se imagina de uma filha de Oxum, orixá das águas doces, a quem cultuava.
Dona de um humor afiado, era também conhecida por sua sinceridade. Falava o que pensava, com sensibilidade e transparência, algumas das qualidades que a tornaram uma figura emblemática e relevante, tanto na mídia quanto na música popular brasileira.
Além da saudade, Preta deixa um legado que inspira resistência. Aqui, relembramos sete momentos que marcaram a vida e carreira da cantora carioca.
A maternidade
Poucas coisas mudam tanto a vida de uma mulher quanto a gravidez, do corpo à mentalidade. Em 1995, Preta viveu essa virada com o nascimento de seu único filho, Fran Gil, hoje músico e com 30 anos, fruto do relacionamento com o ator Otávio Muller.
Primeiro álbum
Aos 29 anos, Preta deixou para trás a carreira como produtora e publicitária para lançar seu primeiro disco, Prêt-à-Porter. Desde a capa, em que aparecia nua, até a sonoridade que misturava MPB com elementos contemporâneos, o trabalho já antecipava a ousadia e a identidade única que marcariam sua caminhada. Foi nesse álbum, também, que ela eternizou um de seus maiores sucessos, Sinais de Fogo.
Rainha de Bateria da Mangueira e a criação do Bloco da Preta
Em 2007, a cantora vestiu o traje verde e rosa para encantar a Sapucaí com seu carisma como Rainha de Bateria da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira. Três anos depois, resolveu criar seu próprio bloco de Carnaval, o Bloco da Preta, que logo se tornou um dos maiores do Rio de Janeiro.
O sucesso foi tanto que o bloco chegou a se apresentar também em São Paulo e Salvador. Em 2016, teve a participação especial de seu pai, Gilberto Gil, em um momento contagiante tanto para o público quanto para a cantora. Não à toa, dois anos depois, o bloco bateu recordes de público na capital fluminense.
Programa “Vai e Vem”
Em 2010, Preta mostrou mais uma versão ao liderar o programa “Vai e Vem”, no GNT. Gravado em um cenário que simulava um elevador, o programa sugeria conversas abertas sobre sexo com celebridades. Apesar da ideia ousada, Preta fazia questão de manter o tom leve e inteligente. “Queria que fosse um programa sem vulgaridade, com inteligência, com humor”, disse na época, em entrevista a Jô Soares.
Diagnóstico de câncer com intestino
Em janeiro de 2023, uma notícia mudou os rumos da vida e da carreira de Preta Gil: o diagnóstico de câncer no intestino. Durante todo o processo, ela se manteve firme e consciente de seus privilégios, compartilhando com o público os desafios do tratamento, que incluiu sessões de quimioterapia e radioterapia.
Em agosto de 2024, passou por uma cirurgia para remoção de tumores, mas a doença voltou a se manifestar em outras partes do corpo, exigindo novas intervenções médicas, o que a levou ao tratamento nos Estados Unidos.
Lançamento da sua autobiografia
Celebrando meio século de vida, a artista resolveu lançar sua autobiografia “Preta Gil: Os primeiros 50”, em 2024. No livro, ela relembra episódios da infância, os desafios da adolescência, as transformações da vida adulta e os bastidores da fase mais delicada que enfrentou: o diagnóstico do câncer e o fim do casamento de oito anos com Rodrigo Godoy, marcado por uma traição durante seu tratamento.
Participação na turnê de despedida de Gilberto Gil
Em abril deste ano, a artista participou da turnê de despedida de seu pai, “Tempo Rei”, que aconteceu no Allianz Parque, em São Paulo. Ali, fez sua última grande apresentação musical cantando “Drão”, canção que Gilberto Gil escreveu em 1982 para Sandra Gadelha, mãe de Preta. Juntos, pai e filha emocionaram o público e a si mesmos, dado o momento delicado que enfrentavam.
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