Nas últimas semanas, o nome “Sister Hong” passou a circular intensamente nas redes sociais e nos buscadores, especialmente após a prisão de um homem de 38 anos, identificado apenas como Jiao, morador da cidade de Nanquim, na China. Por trás da figura aparentemente inofensiva, escondia-se uma rede de engano, manipulação e crime sexual que deixou centenas de vítimas — e uma internet inteira em choque.
Apresentando-se como uma mulher divorciada, Jiao criou perfis em aplicativos de relacionamento com o nome feminino “Sister Hong” (ou “Irmã Vermelha”, em tradução livre). Utilizando artifícios como maquiagem, perucas, máscaras, filtros digitais e até softwares de modulação de voz, ele convencia homens heterossexuais a marcar encontros presenciais. O objetivo? Registrar secretamente os encontros íntimos e vender os vídeos sem o consentimento dos envolvidos.
A identidade falsa e os encontros armados
Durante meses — ou, como ele afirma, até anos — Jiao manteve uma rotina bem planejada para atrair vítimas. Por meio de aplicativos de namoro, oferecia sexo casual com uma personagem feminina, simpática e descomplicada.
Em vez de pedir dinheiro diretamente, sugeria que os parceiros levassem pequenos “presentes simbólicos”, como frutas, leite ou óleo de cozinha. Isso, além de naturalizar o encontro, evitava qualquer acusação direta de envolvimento com prostituição.
Os encontros aconteciam sempre em seu próprio apartamento, onde ele havia instalado discretamente câmeras escondidas. Lá, ele registrava os atos íntimos com os homens — que acreditavam estar com uma mulher cisgênero. Esses vídeos eram, então, editados e revendidos em grupos fechados de redes sociais e fóruns pornográficos, por cerca de 150 yuan (aproximadamente R$ 115).
De vídeos privados a escândalo público
A princípio, o esquema passava despercebido. Mas o volume de conteúdo vazado e a circulação dos vídeos por grupos no Telegram, Reddit, TikTok e X (antigo Twitter) chamaram a atenção. Alguns dos rostos nos vídeos começaram a ser reconhecidos — e o constrangimento tomou proporções pessoais e públicas.
Vítimas começaram a relatar que suas esposas e namoradas viram os conteúdos, o que gerou uma onda de separações, linchamentos morais e, em muitos casos, profunda humilhação social. Em poucos dias, a história deixou de ser uma fofoca online para se tornar um escândalo internacional sobre consentimento, identidade digital e ética sexual.
A prisão de Jiao e os crimes investigados
Diante da repercussão, a polícia de Nanquim iniciou uma investigação formal e prendeu Jiao no dia 5 de julho. Ele foi oficialmente indiciado no dia seguinte por distribuição de material obsceno e por violação de privacidade. A pena pode chegar a 10 anos de prisão, especialmente se for comprovado que houve lucro contínuo com a venda dos vídeos e produção intencional de conteúdo sexual não consentido.
Há também discussões sobre possíveis acusações complementares, como uso indevido de identidade de gênero, fraude, e até exercício ilegal de prostituição disfarçada, já que os “presentes” recebidos em troca dos encontros podem ser entendidos juridicamente como formas indiretas de pagamento.
O impacto devastador sobre as vítimas
Apesar de Jiao ter afirmado, em declarações informais, que teria filmado até 1.600 homens, as autoridades confirmam “apenas” centenas de vítimas. O número exato ainda está sendo investigado. Muitas dessas pessoas estão enfrentando graves consequências emocionais, conjugais e até profissionais.
Além da vergonha pública, boatos infundados começaram a circular, incluindo possíveis transmissões de doenças como o HIV — o que foi negado pelo Centro de Controle de Doenças de Nanquim. Como resposta à crise, o órgão ofereceu testes gratuitos e acompanhamento psicológico às possíveis vítimas que se apresentassem.
Um caso que escancara o lado sombrio dos apps
O caso “Sister Hong” reacendeu um debate global urgente sobre privacidade em tempos digitais. Em um mundo onde deepfakes, filtros de rosto e manipulação de voz se tornaram acessíveis, como saber com quem realmente estamos nos relacionando? E mais: até que ponto aplicativos de namoro são preparados para lidar com fraudes tão complexas?
A comoção pública também revela o quanto o consentimento pleno ainda é uma fronteira mal compreendida, especialmente quando se mistura com desejo, anonimato e hipersexualização. A internet reagiu com indignação, memes, comentários transfóbicos (que nada têm a ver com o caso, já que não se trata de uma pessoa trans) e um coro uníssono por punições severas.
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