Seu filho se revelou LGBTQIAPN+? Veja como ter uma conversa acolhedora

No último domingo, 22 de junho, aconteceu a 29ª Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, reunindo cerca de 50 mil pessoas. Mais do que um evento de celebração, a parada também reforça a importância da representatividade e do acolhimento familiar. Um dos momentos mais simbólicos ao longo das edições é a presença de mães que, publicamente, apoiam e defendem seus filhos.

Para muitas famílias, lidar com a descoberta da orientação sexual ou identidade de gênero de um filho ainda é um desafio – e isso, na maioria das vezes, está mais ligado ao preconceito social. O medo da rejeição faz com que muitos jovens demorem a se assumir ou passem anos escondendo sua verdadeira identidade. Mas essa história não precisa, e não deveria, ser sempre dolorosa.

Para falar sobre o assunto e orientar outras mães, conversamos com a médica Andrea Hercowitz, Coordenadora de Saúde da ONG Mães Pela Diversidade, que compartilhou sua experiência pessoal e profissional.

Uma casa inclusiva desde cedo

Andrea e o marido sempre perceberam, ainda na infância, que o filho Rafael poderia ser gay. Durante sua infância Rafael contava com traços lidos socialmente como não masculinos. Mas, ao invés de antecipar qualquer conversa, optaram por transformar a casa em um ambiente inclusivo, livre de preconceitos e com cuidado redobrado para não reforçar padrões heteronormativos.

Mesmo assim, a trajetória de Rafael não foi fácil. Desde pequeno, enfrentou preconceito de colegas de escola e até de adultos. “Eu sempre digo: ‘Filho, eu já te defendia antes mesmo de você saber quem era’. Ouvi coisas como ‘já falamos que ele não é gay’, e eu respondia: ‘E se for, qual o problema?’”, relembra Andrea, que chegou a mudar Rafael de escola diante do ambiente hostil.

Aos 12 anos, durante uma consulta, Rafael foi questionado pela psicóloga sobre sua sexualidade. A conversa com a mãe veio em seguida e, embora ele tenha compreendido que seria acolhido em casa, temia o preconceito do mundo externo.

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Andrea também é mãe de Luisa, que se descobriu lésbica aos 19 anos. A médica aponta que, apesar de Luisa também apresentar características que a sociedade não associa ao estereótipo feminino, não chamava tanta atenção quanto às atitudes de seu filho, evidenciando o machismo estrutural que torna o preconceito ainda mais severo para meninos gays.

<span class=”hidden”>–</span>Acervo pessoal/Reprodução

De mãe para mãe: acolhimento e representatividade

A partir de 2016, Andrea passou a participar ativamente da Parada e se envolveu com o Mães Pela Diversidade. Decidida a oferecer não só acolhimento, mas também respaldo científico, fundou, junto a colegas, um ambulatório de acompanhamento para crianças e adolescentes trans no Centro de Saúde Escola da USP.

“Convivi com muitas realidades diferentes, mas uma coisa era evidente: filhos que se sentiam apoiados por suas famílias estavam mais felizes e menos suscetíveis a comportamentos de risco e às violências à que estavam expostos”, afirma.

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Andrea admite que, por muito tempo, desejou que o filho não fosse gay – não por preconceito, mas pelo medo das violências que ele poderia sofrer em um dos países que mais mata pessoas LGBTQIAPN+ no mundo. Mas entendeu que isso seria também uma violência, querer controlar quem ele é.

Para ela, o amor e a proteção instintiva de mãe são prioridade. “Na Parada, a gente está ali no primeiro trio, atrás do de abertura, justamente dizendo: para chegar neles, vão ter que passar por cima da gente”.

Como iniciar essa conversa com o filho?

A médica deixa alguns conselhos para mães e pais que estão começando esse processo de diálogo e acolhimento:

  • Acolha e demonstre respeito, para que seus filhos se sintam à vontade para se expressarem como são e entenderem que serão respeitados.
  • Escute antes de tudo. Mesmo que a aceitação ou entendimento leve tempo, a escuta ativa e sem julgamento é a principal ferramenta de apoio.
  • Nunca force uma revelação. Tirar alguém “do armário” antes da hora também é uma forma de violência.
  • Busque informação e rede de apoio. ONGs, coletivos e outras famílias que passaram por isso podem ajudar a aliviar medos e dúvidas.
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    “A revelação de uma diversidade sexual de gênero, para o adolescente, principalmente, é um dos momentos mais difíceis da vida deles. E a receptividade nesse momento vai ser lembrada para sempre, mas a rejeição também”.

    Andrea reforça que não existe uma única forma de viver essa história. Cada trajetória é única e merece ser respeitada no tempo e na forma de cada pessoa. Mas a principal tática para qualquer mãe é mostrar que está tudo bem, que o amor e o acolhimento da família vão permanecer, independente de qualquer coisa.

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