Para quem está fora do universo esportivo do basquete, pode até achar que a série A Dona da Bola (Running Point) parece ser uma versão de saias de Ted Lasso para Netflix. Leigo engano, ela é na verdade uma versão bem humorada de uma série da MAX, Winning Time, com a diferença de que o foco não é nos jogadores ou técnicos, mas em Jeanie Buss, a primeira mulher proprietária controladora de um time de basquete – o L. A. Lakers – que se destaca no campeonato da NBA. Pois é, é uma história real.
Uma das melhores coisas da série é que deu um papel de destaque à sumida Kate Hudson, que se parece fisicamente com Jeanie, e está perfeita. E o que alguns não curtem tanto é que ao optar por algo mais leve, a série traz pitadas de humor e superficialidade à uma história fascinante. A Dona da Bola (Running Point) já garantiu a segunda temporada, portanto está batendo um bolão.
As figuras femininas como executivas esportivas não são lá populares no cinema ou na TV. Cameron Diaz interpretou a filha de um dono de time de futebol americano em Um Domingo Qualquer, em 1999, mas retratada como vaidosa, ambiciosa e sem conhecimento do jogo.
Em Ted Lasso, a fictícia Rebecca Welton (Hannah Waddingham) começa como uma antagonista querendo destruir o time de futebol que o ex-marido amava, mas sua evolução na trama quase a deixa como coprincipal. C
omo Ted (Jason Sudeikis) é um homem “diferente”, inclusivo e sensível, a série se destacou por tratar de temas emocionais e pessoais, incluindo o papel das mulheres no universo esportivo de uma maneira mais profunda e cuidadosa. Rebecca cresce como uma figura de empoderamento, lidando com a dinâmica de ser mulher em uma posição de poder em um ambiente predominantemente masculino
E Winning Time tem um grande elenco que dramatiza a ascensão do Los Angeles Lakers na década de 1980, acompanhando tanto a construção da equipe quanto as dinâmicas entre os jogadores e o staff. É uma narrativa que mistura eventos históricos com elementos ficcionais, mas traz a grande Jeanie Buss como secundária. A série não se foca profundamente nas histórias das mulheres, mas, ao retratar a cultura machista da época, oferece uma visão da luta delas por mais respeito e autonomia em um ambiente dominado por homens.
Se olharmos para a trajetória de Jeanie Buss, é lamentável ver as oportunidades perdidas, mesmo em A Dona da Bola (Running Point): o machismo está lá, mas o romance é mais relevante. Antes de falar mais sobre isso, vamos apresentar (ou relembrar), que é Jeanie e por que é tão icônica.
Jeanie Buss já é uma figura emblemática no mundo do basquete, conhecida, claro, por sua atuação como proprietária dos Lakers. Ela cresceu em uma família profundamente envolvida no esporte, sendo filha de Jerry Buss, que adquiriu o time de basquete em 1981 depois de uma longa passagem pelo mundo do tênis.
Assim como vemos sua alter ego na Netflix, Isla Gordon (Hudson), Jeanie realmente se envolveu nas operações da equipe desde muito cedo, começando sua carreira ajudando nas iniciativas de marketing e administração.
Ao longo de sua trajetória, Jeanie se destacou por suas habilidades de gestão e por promover a diversidade e a inclusão na organização, tornando-se a primeira mulher a liderar uma franquia da NBA.
Seu papel nos Lakers vai além da administração; ela tem sido uma voz ativa em causas sociais e filantrópicas, usando a plataforma da equipe para apoiar iniciativas importantes.

A série da MAX, que já foi cancelada na 2ª temporada, é a adaptação do livro de mesmo nome, Winning Time: The Rise of the Lakers Dynasty, Nela, Jeanie é interpretada pela atriz Hadley Robinson, e vemos sua busca por espaço e influência dentro de uma estrutura dominada por homens.
A série captura essa luta enquanto, mas apostava mais em um estilo narrativo dinâmico, misturando elementos reais e dramatizados sobre o time, nem tanto ela.
Ainda assim, ilustrou como sua determinação e visão ajudaram a moldar não apenas a equipe, mas também o papel das mulheres no esporte.
Como falei, o que A Dona da Bola (Running Point) faz de diferente é colocar humor onde Winning Time realçava o drama com um retrato bem-humorado das consequências psicologicamente impactantes da família Buss tendo menos consequências.

Jeanie é a terceira de quatro filhos de Jerry Buss com a mesma esposa, mas tem uma irmã e outra meio-irmã das escapadas do pai com outras mulheres.
O divórcio de seus pais a deixaram se sentindo emocionalmente abandonada, mas ela era colada em Jerry, o acompanhando nos negócios desde os 14 anos, antes dele se envolver com a NBA. Aliás, hoje, ela também é a dona da Liga Feminina de Luta Livre, a WOW (Women Of Wrestling). Não dá para desafiá-la, né?
Na liderança dos Lakers, Jeanie brilhou, mas esbarrou antes com uma longa e árdua disputa de poder com seu irmão, Jim, assim como Isla depara com Cam (Justin Theroux), cujo antagonismo velado encerra a temporada com os dois abertamente lutando pela liderança do time.
A série da Netflix usa detalhes da vida de Jeanie em Isla quase seguindo a ordem cronológica: ela foi casada quando nova, coloca a vida profissional antes de tudo, pousou para a Playboy e se envolveu romanticamente com técnico do time (isso ainda não se concretizou em A Dona da Bola (Running Point), mas será na próxima temporada).
Outro detalhe que está na série é o fato de os Buss terem descoberto que tinham um meio-irmão bem mais novo, que quis se conectar com a família.
Agora o detalhe mais divertido de todos os cruzamentos da vida de Jeanie com as comédias românticas esportivas. Sabe quem é seu marido? O comediante Jay Mohr o odioso antagonista de Tom Cruise em Jerry Maguire, Bob Sugar. Não é para rir?
Ou seja, os críticos foram relativamente duros com A Dona da Bola (Running Time) mas talvez tenham sido injustos. Séries que exploram o universo esportivo raramente têm lugar para um papel feminino que não seja secundário, por isso é tão interessante que aqui se ressalte que é inspirado em uma história real. Parece surreal, claro, mas não é.
Infelizmente, se olharmos para a incrível (e resumida) trajetória de Jeanie, A Dona da Bola (Running Time) perde uma grande chance de fazer algo mais poderoso.
O humor oferece uma visão mais acessível e divertida do percurso da executiva, mas deixa de lado o impacto que sua liderança teve na história do basquete. Por outro lado, a showrunner, a atriz Mindy Kaling, usa a série como uma forma de celebrar mulheres justamente evitando uma biografia usual, apostando mais nas situações leves para contar a história.
Dessa forma, fica a sugestão de ver e rever as três séries. Juntas, cada uma delas traz uma perspectiva única sobre o papel feminino, ajudando a refletir sobre as conquistas e os desafios enfrentados pelas mulheres no esporte, tudo isso enquanto nos proporciona boas risadas. Como não querer mais?
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