Julia Lemmertz: “a finitude do planeta me preocupa mais do que a minha”

Mário de Andrade retratou a sociedade brasileira e escreveu sobre temas como sexualidade, cultura e as complexidades das relações humanas. Um dos marcos de seu trabalho é o livro Amar, Verbo Intransitivo, publicado em 1927. Agora, 80 anos após sua morte, a obra ganha um audiolivro narrado por Júlia Lemmertz

Disponível na Audible, o romance é um retrato da burguesia paulistana de um século atrás. A trama aborda a iniciação amorosa e sexual do jovem Carlos com sua professora de alemão, Fräulein, contratada pelo pai do rapaz para, na verdade, ensinar-lhe sobre o amor

“Um dos maiores desafios foi a quantidade de palavras em alemão”, revela Júlia à CLAUDIA. “Fui atrás de uma amiga que também é professora para conseguir pronunciar bem. Quando acabou, tive a sensação que eu poderia fazer tudo de novo.” 

Com 61 anos, a atriz encara um novo desafio: viver bem o presente e pensar em ações para criar um mundo melhor – não só para si mesma, mas para toda a população. “Acho que vivemos um momento em que a gente precisa tomar alguma atitude real para manter o planeta ainda habitável ou vamos para o nosso fim. A finitude do planeta me preocupa mais do que a minha – é o único lugar que temos para viver”, reflete. 

Abaixo, confira a entrevista completa:

CLAUDIA: Como foi gravar um audiolivro?

Eu sempre tive o desejo de fazer  uma radionovela ou algum produto envolvendo o áudio porque é um exercício extraordinário. Fora o fato de ser muito legal ler um livro inteiro para alguém! 

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Sempre li para os meus filhos e para o meu neto antes de dormir e percebi que há algumas obras que entendemos melhor quando falamos em voz alta. Isso acontece com Mário de Andrade porque ele inventa várias palavras. Ele quer transmitir sentimentos que o português não dá conta. 

Um dos maiores desafios da obra foi a quantidade de palavras em alemão, já que a personagem principal é professora. Aí fui atrás de uma amiga que também é professora para eu conseguir pronunciar bem. Quando acabou, tive a sensação que eu poderia fazer tudo de novo.

CLAUDIA: Esse é um livro que não fala só sobre o amor, mas sobre sociedade também. O que você leva da obra? 

Fiquei pensando muito no quanto o Mário de Andrade faz falta. Ele era um cara extraordinário que pensava o Brasil e tinha uma profunda ligação com todas as formas de cultura. Nesse livro, ele mergulha dentro de uma família burguesa com preconceitos, machismo e racismo, mas através de uma narrativa quase poética. 

Disponível na Audible, o romance é um retrato da burguesia paulistana de um século atrás
Disponível na Audible, o romance é um retrato da burguesia paulistana de um século atrásAudible/Reprodução

CLAUDIA: Você interpretou personagens femininas irreverentes. Uma das mais marcantes foi Esther, em Fina Estampa. Naquele momento, se falava pouco sobre inseminação artificial e os desafios da maternidade. Como você percebe a personagem hoje?

As novelas inserem assuntos que são sensíveis à sociedade. A gente tende a achar que elas geram uma reflexão mais ligeira, mas às vezes elas introduzem temas que precisam ser pensados para evoluirmos a um outro patamar.

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Acho que a inseminação ainda é falada em um nicho fechado. Há quem faça e nem fala porque não importa o jeito que você engravidou, mas que você conseguiu. Isso ainda é para poucos porque é um tratamento caríssimo e difícil. A gente não tem uma legislação muito consistente. Há um banco de sêmen, de doador masculino, mas de óvulos não existe. É uma questão bem complexa. 

CLAUDIA: Há algum tempo, quando as mulheres completavam 50 anos, muitas sentiam o fim da carreira. Hoje, elas dizem o contrário, relatam mais possibilidades. O que você espera da sua carreira e quais as realizações que você ainda quer atingir?

Penso nisso todos os dias. Não só em relação à minha carreira, mas em relação à vida mesmo. Quando fiz 60 anos, me coloquei em um lugar diferente das outras idades. Foi um momento em que comecei a refletir quanto tempo ainda me resta de vida útil, com músculo, com energia, com memória.

E aí eu pensei que isso é uma bobagem porque a gente não sabe o tempo que tem aqui. A minha questão é como viver o presente momento da melhor forma possível. Claro, carrego comigo 60 anos, coisas que já fiz e milhares de outras coisas que ainda quero fazer. Mas o que realmente importa falar? Quais temas a gente não aprofunda e passa batido na vida? 

Acho que vivemos um momento do mundo em que a gente precisa tomar alguma atitude real para manter o planeta ainda habitável ou vamos para o nosso fim. A finitude do planeta me preocupa mais do que a minha – é o único lugar que temos para viver.

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CLAUDIA: Nesse fim de semana você participou de um protesto contra o corte de árvores no Rio. O que a pauta do meio ambiente significa para você?

Eu participei dessa manifestação com muita convicção, não só porque eu moro ali no entorno, mas porque estou vendo que o planeta está convulsionado e precisa de decisões muito radicais. 

As pessoas se importam em revitalizar um lugar colocando lojas, restaurantes, estacionamento, fazendo toda uma série de coisas que poderiam estar sendo olhadas de uma outra forma, menos mercadológica e mais social. Me parece um pouco óbvio defender uma área verde e não um conglomerado de construções que vão gerar mais concreto, lixo, trânsito e consumo.

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