A soteropolitana Clarissa Mathias adorava ver o avô, cirurgião geral, sair de casa todos os dias com roupas brancas — e voltar cheio de histórias de pacientes. A influência dele nunca deixou dúvidas: “Não me lembro de, em algum momento, ter pensado em seguir outra carreira na vida que não fosse a medicina”.
Ao contrário do que esperava, o avô sugeriu à neta que escolhesse outra profissão. “Ele ficou bem chateado. Disse: ‘Nossa, eu não quero, porque os médicos são muito mercenários, não têm a mesma visão que eu’. E isso foi há 40 anos”, conta.
Mas não teve jeito, a paixão pela medicina levou Clarissa a se formar pela Universidade Federal da Bahia em 1991 e a se especializar, nos anos seguintes, em oncologia pela Universidade da Pensilvânia, nos EUA.
Ela não virou um dos “médicos mercenários” dos quais seu avô falava. Durante a entrevista, pediu, inclusive, para não ser chamada de doutora. É o que pede também aos seus pacientes.
“O receio dele virou até um bloqueio para mim. Eu tenho muita dificuldade em cobrar, faço visitas e não cobro nada”, diz a líder do Cancer Center Santa Izabel e Oncoclínicas.
Só nos últimos dois anos, encabeçou duas ações para expandir e garantir o acesso mais amplo à saúde na Bahia. A primeira delas foi a reabertura da Casa de Apoio Solange Fraga, na capital, em parceria com a CASACOR.
“É uma casa que abriga crianças com câncer em situação de necessidade, as famílias do interior ficavam lá durante o tratamento. E ela foi desativada na pandemia. Liguei para a pessoa responsável pelo projeto CASACOR aqui na Bahia e ele teve uma sensibilidade enorme. Quatro arquitetos toparam e reabrimos a casa. Temos vários projetos lá, entre eles o de reinserção dos pais no ambiente de trabalho, porque muitas vezes eles perdem o emprego”, afirma.
Em dezembro do ano passado, organizou uma caravana da saúde até uma comunidade perto de Canudos, no sertão baiano, a 400 quilômetros de Salvador.
Ela e outros médicos fizeram um mutirão para realizar exames e consultas. Tamanha dedicação, cuidado e estudo levaram a oncologista a ser a primeira brasileira eleita para a diretoria da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco). “Eu já estava feliz em estar entre os nomes para essa escolha, porque são 46 mil associados”, celebra. Merecidíssimo, Clarissa.
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