Primeiro apareceu nas passarelas, depois foi parar nas vitrines e, sem perceber, o desejo por aquilo me dominou. As tendências não surgem exatamente assim, mas seguem um processo semelhante: algo ganha destaque e acaba influenciando escolhas. Com as redes sociais, porém, esse percurso acelerou — o que antes levava meses ou anos, agora acontece em dias.
Se você acompanha notícias de moda, certamente já se deparou com termos como “barbiecore“, “brazilcore” e “balletcore“. Aliás, variações de “core” dominam a internet, especialmente o TikTok, e acabam desaparecendo na mesma velocidade que surgiram. Não por acaso, as pessoas estão cansadas de seguir as tendências.
Esse fenômeno, aliás, não se restringe à moda. Movimentos como o discurso sobre amor-próprio, autocuidado e a vontade de se desconectar do digital para viver experiências reais também ficaram em alta e, agora, caminham para um declínio em popularidade.
Mas por que isso acontece? De onde as tendências vêm? O que realmente é uma tendência? Confira a seguir:
De onde surgem as tendências?
Quem já assistiu O Diabo Veste Prada sabe que as tendências não surgem do nada. Quando a funcionária Andy Sachs debocha da escolha entre dois cintos azuis quase idênticos, Miranda Priestly explica que o suéter de Andy não foi uma decisão tão casual quanto ela pensa.
A chef explica que o azul cerúleo surgiu nas coleções de estilistas de alta moda, depois apareceu nas revistas e, então, foi parar nas lojas de departamento, até acabar no “cesto de ofertas” de onde Andy comprou.
“As tendências são manifestações de desejos coletivos”, segundo Paula Bragagnolo, fundadora e diretora criativa da PGB Inteligência, plataforma que mapeia tendências.
Ela exemplifica: no pós-pandemia, quando as pessoas buscavam otimismo e retomada da vida social, a moda respondeu com cores vibrantes, plumas e brilhos.
Quanto mais global uma tendência for, maior sua força e seu tempo em destaque. É o caso da eco-ansiedade, o receio sobre os impactos ambientais, que influencia desde escolhas de consumo até decisões de vida, como não ter filhos.
A curva de adoção de Rogers exemplifica o nascimento e a popularização de uma tendência. Basicamente, existem cinco perfis de consumidores:
- Inovadores: artistas, estilistas e profissionais que lançam novidades
- Adotantes iniciais: os trendsetters, influenciadores e fashionistas que popularizam a inovação
- Maioria inicial: quem adota tendências de forma mais cautelosa, mas acaba massificando as trends
- Maioria tardia: pessoas que aderem apenas quando a tendência já está consolidada
- Retardatários: são os últimos a aderir, quando aquilo já é normal
O TikTok transformou essa dinâmica. “Quase colapsou o sistema de tendências”, explica a especialista.
“Antes, uma peça desfilava e levava meses para chegar ao público. Agora, temos acesso assim que sai do desfile. As tendências nascem, todos falam sobre e, logo em seguida, elas morrem. Começamos a consumir de forma tão rápida que o tempo de vida [das trends] está curtíssimo.”
O ciclo das tendências: a regra dos 20 anos

Nenhuma tendência desaparece para sempre. “O mercado precisa criar novidades para continuar girando”, diz Paula. Muitas vezes a maneira de fazer isso é revisitando antigas febres.
Ainda há um fator importante nessa equação: o ciclo dos 20 anos. A teoria diz que certos aspectos da moda, comportamento e cultura voltam a ser populares a cada duas décadas.
Isso acontece pela nostalgia da juventude: os novos jovens buscam sua identidade com referências do passado. Além disso, empresas frequentemente tentam resgatar algo icônico para a atualidade. O retorno das tendências dos anos 2000, com calças de cintura baixa, bolsas baguete e tecidos brilhantes é prova desse ciclo.
O problema é que, muitas vezes, o que muda é apenas o nome. Um exemplo recente é o strawberry blush, técnica popularizada por Hailey Bieber, que nada mais é do que o blush marcado, conhecido há décadas como “efeito chinelada”. É preciso diferenciar uma simples reciclagem de uma tendência real para evitar, por exemplo, a compra de algo que você já tem.
Com as redes sociais, muitas vezes as tendências são espalhadas sem contexto, reflexão e paciência. “Virou uma nova ditadura, como nos anos 2000, quando era preciso seguir o que estava na moda sem questionar se fazia sentido para si.” Por isso, é necessário investigar no que aquela trend está pautada.
“Na arquitetura e no design de interiores, por exemplo, o sofá curvo e o tecido bouclê estão em alta há anos porque refletem a necessidade de conforto e acolhimento, tendências impulsionadas pelo isolamento social”, diz a profissional.
Por que estudar tendências é essencial para as empresas?

Toda marca que estuda as tendências tem mais chance de lucrar. Basicamente, prever o comportamento e o desejo do consumidor ajuda a criar produtos certeiros e que vão vender.
“Uma empresa precisa saber para quem vende e quais são os desejos desse público”, diz Paula. Esses desejos não envolvem apenas moda, mas também alimentação, lazer e estilo de vida.
Já tendências efêmeras, impulsionadas pelo TikTok, são mais eficazes para campanhas de marketing e ações rápidas do que para o desenvolvimento de coleções duradouras.
“O lenço no BBB é exemplo disso. Uma tendência pode gerar um pico de vendas momentâneo, mas não necessariamente justifica a criação de uma linha inteira de produtos. Ao invés de criar lenços, por exemplo, uma loja de departamento pode colocar os do estoque na vitrine.”
Estudar o comportamento do consumidor é essencial. “A marca precisa entender para quem ela vende e o que essa pessoa consome. Se é voltada para roupa, estude o que o consumidor come, pratica, faz em casa e quais são os desejos, não apenas o que veste.”
Como identificar uma tendência antes que ela estoure?
Quando perguntada como identificar tendências, a diretora criativa afirmou: meditando. A resposta parece inusitada, mas é uma dica valiosa. “Estudar tendências é uma observação constante.” É preciso estar atento aos filmes, maquiagens, enquadramentos, cores, comportamento social e por aí vai. Ela também recomenda buscar canais e mídias sérias para se embasar.
Mais uma dica interessante: preste atenção ao seu redor. “Quando estou na manicure, pergunto ‘qual cor estão pedindo mais? ‘Você acha que foi porque alguém indicou ou elas escolheram espontaneamente?’”, diz.
Com esse olhar atento, quem sabe, as decisões e as tendências se tornem mais conscientes.
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